Blog Clara Nunes: Ela mora no mar, brinca na areia e desfila na Sapucaí

05 fevereiro 2012

Ela mora no mar, brinca na areia e desfila na Sapucaí




O canto da guerreira serenou o mar, espantou a tristeza, arrastou multidões e deixou um rastro de saudade depois da partida. Vinte e nove anos após sua morte, Clara Nunes permanece viva na memória dos amantes da boa música e, especialmente, dos portelenses. No ano em que faria 70 anos, a tal mineira de Paraopeba será destaque no maior espetáculo da Terra. E a homenagem é dupla. Clara Nunes é uma das inspirações do enredo da Portela sobre as festas da Bahia, em um dos sambas mais festejados deste ano. No sábado de carnaval, a Paraíso do Tuiuti abre os trabalhos do Grupo de Acesso e eleva Clara da inspiração ao protagonismo. A cantora que eternizou "Morena de Angola" é o enredo da escola de São Cristóvão, na briga por uma vaga no Grupo Especial ano que vem. Para representar Clara Nunes na comissão de frente, a escola convidou a atriz, cantora e ex-rainha de bateria da Viradouro Patrícia Costa. - Tinha 8 anos quando fui à quadra da Portela pela primeira vez. Enquanto a Clara Nunes cantava, tinha uma aura em volta dela. Parecia o Sol - lembra Patrícia, neta de Cláudio Bernardo da Costa, um dos fundadores da azul e branco. Samba, liberdade e paixão Da paixão pelo avô, Patrícia herdou também o amor pelo samba e pela Portela. A estreia no carnaval aconteceu em grande estilo. Em 1984, ano da inauguração do Sambódromo, a escola de Madureira trouxe um enredo que homenageava os bambas Paulo da Portela, Natal e, sempre ela, Clara Nunes. Patrícia veio em um carro alegórico e comemorou o título, dividido com a Mangueira. Mas a vontade mesmo era sair no chão. Em 1990, realizou o sonho e ganhou o Estandarte de Ouro de revelação. O prêmio, como não poderia deixar de ser, foi entregue pelo avô. - Fiz balé, jazz, sapateado, mas foi no samba que eu me encontrei. É a dança da liberdade - destaca. De Madureira, seguiu para Niterói, onde reinou à frente da bateria da Viradouro de 1992 a 1998 e em 2011. Levantou mais um trófeu de campeã em 1997, ano da "paradinha funk", criação do Mestre Jorjão. - Foi um desfile impressionante. Tinha muita energia na Sapucaí - recorda. Completando a festa, Patrícia volta à Portela este ano, convidada pelo carnavalesco Paulo Menezes. - Vou sair em um carro alegórico, mas, como sempre, vou defender a dança do samba - garante. No estúdio fotográfico, simpatia e samba-enredo para descontrair "Quem samba na beira do mar é sereia", cantava Clara Nunes. Quem samba na avenida, no estúdio fotográfico ou em qualquer lugar é quem nasceu para brilhar no carnaval, caso de Patrícia Costa. Ao posar para as fotos no GLOBO, ela deixou isso claro, demonstrando carisma. - O carinho das pessoas é o combustível - afirma. Para transformar Patrícia em Clara, o maquiador Marcello Arruda mergulhou em um trabalho de pesquisa. - Vi que a maquiagem usada na época era mais suave. Usei base e sombra em tons neutros - conta ele, que teve a ajuda de um livro levado por Patrícia, com diversas fotos de Clara Nunes. A produção ficou completa com uma bata e uma saia de laise, tecido 100% algodão. Roupas brancas, claro, sob a inspiração das religiões afrobrasileiras, que marcaram presença na vida e na obra da cantora. Tudo pronto, todos a postos, chegou a hora da sessão de fotos. Quer dizer, quase tudo pronto. Faltava o samba. Patrícia só se sentiu à vontade para evoluir no estúdio depois que os primeiros acordes de "Morena de Angola" saíram das caixas de som. Para encerrar, um pedido: o samba-enredo da Portela. Com a proteção de todos os guias, "com Clara Guerreira à Bahia," o trabalho estava feito. Enquanto isso, no barracão... Depois de homenagear Arlindo Cruz em 2002, Cartola em 2008, e conquistar o título do Grupo de Acesso B no ano passado, contando a história do doce bárbaro Caetano Veloso, a Paraíso do Tuiuti reforça a tradição de enredos sobre personalidades e vai levar para a avenida um desfile contando a trajetória de Clara Nunes. - Quando eu cheguei à escola, o presidente (Renato Thor) me pediu um enredo sobre alguém ligado à cultura brasileira. Tinha acabado de ler o livro "Guerreira da utopia", do Vagner Fernandes, e sugeri o nome da Clara. Ele adorou a ideia, disse que tinha um CD dela no carro - conta o carnavalesco Jack Vasconcelos. Para celebrar a Guerreira, como Clara era conhecida, o coreógrafo Fábio Batista desenvolveu os movimentos da comissão de frente baseados em danças folclóricas, como samba de roda, forró e maracatu. - Pesquisei os trejeitos da Clara Nunes. E por isso eu convidei a Patrícia Costa, por causa da movimentação e da interpretação. Sempre acompanhei o trabalho como rainha de carnaval e o samba dela tem um quê diferente - diz Batista, responsável pela comissão de frente. Além da dança, a coreografia prevê que Patrícia vai subir em uma espécie de tripé durante o desfile. - A coreografia é uma celebração da chegada da Clara Nunes em outro plano. A Patrícia é o pivô e os outros 14 componentes vêm como anjos e orixás - revela. Ao longo do desfile - com cinco carros alegóricos, nove alas e cerca de 2.200 componentes - o foco vai permanecer na carreira de Clara como cantora, conta o carnavalesco: - Ela não cantava qualquer coisa. Escolhia muito bem o repertório. A melhor forma de contar a história dela é falar das músicas. Vasconcelos disse ainda que o trabalho de pesquisa contou com a ajuda da irmã mais velha da cantora, responsável pelo acervo. Maria Gonçalves, conhecida como "Mariquita", recebeu o presidente, Renato Thor, e o diretor de carnaval, Leandro Azevedo, em uma visita ao interior de Minas. - A escola vem muito bonita. Não vai ser um carnaval só para passar na avenida - reforça o carnavalesco.

http://br.noticias.yahoo.com/mora-mar-brinca-areia-desfila-sapuca%C3%AD-020000401.html

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