Blog Clara Nunes: abril 2013

30 abril 2013

Globo News- Clara Nunes especial


Edição do dia 25/04/2013
25/04/2013 11h16 - Atualizado em 25/04/2013 11h16



Todas as pessoas têm uma missão,



 a minha é cantar, dizia Clara Nunes



Zelosa da carreira, tinha que se apaixonar pela música antes de gravá-la.
Cantora foi a primeira mulher a vender 100 mil cópias de um disco.

Chamada de ‘ser de luz’ pelo compositor João Nogueira, acreditava em seu canto como instrumento de transformação social e fez de sua voz uma arma de batalha.
Também chamada de guerreira, era a presença do candomblé e da umbanda na música popular brasileira. “Todas as pessoas têm uma missão. Eu tenho a missão de cantar”, disse em entrevista a Leda Nagle, no Jornal Hoje, em 1982.
A cantora nasceu na pequena cidade de Paraopeba, em Minas Gerais. Do pai, um violeiro muito conceituado na região, ela herdou o amor pela música e o nome. Para batizar os filhos, ele olhava no calendário quem era o santo do dia. Em 12 de agosto, dia de Santa Clara, nasceu Clara Nunes.
Como os pais morrerem muito cedo, a cantora começou a trabalhar aos 14 anos, como operária em uma fábrica de tecidos. “Acho fundamental a mulher ter uma profissão. Aprendi desde cedo a ser independente financeiramente e a lutar para conseguir as coisas. Digo que continuo operária. Hoje eu sou operária da música popular brasileira”, afirmou Clara no TV Mulher, em 1981.
Clara Nunes - Você passa, eu acho graça (Foto: Globo News)Capa do disco 'Você passa e eu acho graça'
Aos 16 anos, mudou-se para Belo Horizonte, onde venceu diversos concursos de calouros e começou a tocar em rádios, televisões e boates. Aos 23, tentou a sorte no Rio, onde gravou o primeiro disco. Ela acreditava que só acertou mesmo a partir de 1968, quando gravou ‘Você passa e eu acho graça’, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial. “Ali me senti mais tranquila. Queria encontrar um caminho que não fosse parecido com nenhum artista e vi que tinha uma brecha, que era me voltar para o folclore”, contou ao TV Mulher, em 1982.
O auge do sucesso começou em 1974, com ‘Conto de areia’. Dali em diante, os discos de Clara Nunes saiam com, no mínimo, 200 mil exemplares vendidos. “Clarinha tomava muito cuidado com seu repertório e, para isso, ela tinha que se apaixonar pela música que iria gravar”, lembrou a amiga Bibi Ferreira no especial dedicado à cantora gravado em 1983.
Para o músico Sivuca, ela não era apenas uma grande sambista, mas uma intérprete que se saía bem em diversos gêneros. “Era romântica quando tinha que ser romântica e folclórica quando encarava uma música nordestina. Dispunha de um material vocal maravilhoso, era uma cantora de possibilidades ilimitadas”, disse.
Clara Nunes (Foto: Globo News)Em suas apresentações, Clara Nunes gostava de se vestir de branco e pedir proteção. As canções que exaltavam a fé fizeram dela símbolo do sincretismo religioso do país. (Fotos: Reprodução/Globo News)
A cantora mineira teve duas grandes paixões: a Portela, tradicional escola de samba do Rio, e o produtor musical Paulo César Pinheiro, com quem se casou. “O Paulinho foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Ele é simplesmente extraordinário, um grande amigo, um homem maravilhoso”, derreteu-se em entrevista ao Jornal Hoje, em 1979.
Em suas apresentações, vestia-se toda de branco e, antes de entrar no palco, batia no chão três vezes, rezava e pedia proteção aos orixás. “Eu sou muito mística, tenho uma fé muito grande e acredito nos orixás. É uma coisa que está dentro do meu coração, dentro da minha alma. É muito sincero da minha parte”, disse ao Jornal Hoje também em 1979. A fé cantada nas letras fez dela um símbolo do sincretismo religioso no país.
Clara recusava os rótulos e gostava de dizer que era uma cantora popular brasileira. “Uma coisa que sempre lutei na minha vida foi justamente ser uma cantora popular, que cantasse as coisas do meu povo, principalmente as boas. Só canto aquilo que é verdade. Eu sou uma cantora autêntica brasileira”, afirmou em 1976.

Assista na íntegra:

19 abril 2013

Programa especial Globo News-Arquivo N- Quarta ,24 abril


Edição do dia 19/04/2013

Arquivo N homenageia Clara Nunes, 

uma das maiores cantoras do país

   

Programa resgata entrevistas da artista e aborda temas como a infância pobre em Minas, a religião e o amor pelo compositor Paulo Cesar Pinheiro.


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Clara Nunes (Foto: Globo/CEDOC)Arquivo N presta homenagem à cantora Clara Nunes, primeira artista do país a vender 100 mil cópias de um disco. Programa vai ao ar nesta quarta-feira (24), às 23h, na Globo News (Foto: Globo/CEDOC)
Há 30 anos, morreu Clara Nunes, umas das maiores artistas brasileiras e a primeira do país a vender 100 mil cópias de um LP. O Arquivo N de quarta-feira (24) presta uma homenagem à cantora. O telespectador vai conhecer toda a trajetória da artista que, através de sua música, levou o Brasil, em plena década de 1970, a lugares bem distantes como a África e o Japão.
Clara começou a trabalhar como tecelã e acabou se tornando um dos nomes de maior destaque da música brasileira. Sua imagem virou símbolo de sincretismo religioso e levou a umbanda e o candomblé para a MPB. No programa, sua história é contada por ela mesma através de entrevistas que concedeu à Globo ao longo da carreira. Em seus depoimentos, fala dos mais variados temas como religião, superstições, a infância pobre em Paraopeba, cidade de Minas Gerais, e seu amor pelo compositor Paulo Cesar Pinheiro.
O programa resgata ainda imagens de uma reportagem do Fantástico em que Clara volta à sua cidade natal para uma visita, imagens do início da carreira, de sua primeira canção de grande sucesso , ‘Você passa eu acho graça’,  e de sua participação especial no filme ‘Na onda do Iê, Iê, Iê’, em 1966.
Arquivo N em homenagem a Clara Nunes vai ao ar na quarta-feira (24), às 23h, na Globo News
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Hoje na História- Jornal do Brasil


02 de abril de 1983: Adeus a Clara Nunes, a mineira guerreira, filha de Ogum com Iansã

Clara Nunes, por Ronaldo Theobald/CPDoc JB
Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar

Sua voz então a se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava espantava a dor
Com a força do seu cantar

Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela se foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
E a gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de vê-la, sabiá

Sabiá
Que falta faz sua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melâncolia

Canta meu sabiá,
Voa meu sabiá,
Adeus meu sabiá...
Até um dia...

Clara Nunes, 39 anos, passou 28 dias em estado de coma profundo depois de submeter-se a uma operação de varizes. No seu último show no Portelão, em Madureira, com a velha guarda da escola do seu coração, ela prometeu voltar no 1º domingo de abril. Voltou com um dia de antecedência, para ser velada por cerca de 50 mil pessoas, num Sábado de Aleluia nublado, na quadra se apresentou. Os fãs enfrentaram sol, chuva, brigas e empurrões, e por duas vezes o caixão balançou, quase caiu.

Os fãs cantavam a Valsa do Adeus quando o caixão foi fechado. O surdo da Bateria da Portela marcou a saída de Clara Nunes pela última vez da quadra da escola. O prefeito em exercício, Jamil Haddad, decretou luto oficial por três dias.

Clara nasceu Clara Francisca Gonçalves Pinheiro na cidadezinha mineira de Paraopeba no dia 12 de agosto de 1943. Mudou-se aos 14 anos, já orfã de pai, o violeiro Mané Serrador - cantador de folias-de-rei, para Belo Horizonte, e foi cantar no coral de uma igreja. No início dos anos 60, deixava o anonimato ao conquistar o terceiro lugar na finalíssima nacional do concurso A Voz do Ouro ABC, cantando a Serenata do Adeus de Vinícius de Moraes. O salto para a projeção nacional foi em 1965, já no Rio de Janeiro, quando iniciou a longa parceria de 17 anos com a gravadora Odeon.
Clara Nunes recebendo artista em sua gravadora, a Odeon
Clara entre João Nogueira, Alcione e Nana Caymmi


Foi uma grande profissional do disco e uma estrela de primeira grandeza do palco. Em 1972, no Teatro Glauce Rocha, dividiu espetáculos com Vinícius e Toquinho, e com Paulo Gracindo. Como testemunho de sua coragem e de sua dedicação à vida artística, em 1977, Clara Nunes inaugurou seu teatro no Shopping da Gávea, Rio de Janeiro com o espetáculo Canto das 3 Raças. Em 1981 levou milhares de pessoas ao Teatro Clara Nunes, para vê-la no show Clara Mestiça.


Uma desbravadora iluminada

Foi a primeira voz feminina a romper a barreira dos 100 mil discos, uma regra imutável dos corredores das gravadoras que dizia que mulher não vendia discos. Lançou para o sucesso de massa nomes idolatrados do mundo do samba. Gravou Candeia, Nelson Cavaquinho, Monarca, Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Paulinho da Viola, João Nogueira entre muitos outros da nata dos autores do gênero. Também passeou por outras veredas da música popular brasileira, sempre com resultados brilhantes.

Clara deixa um rastro de luz pelo caminho artístico que soube cavar com energia, coragem e fé.

11 abril 2013

Inspiração em Clara


Após homenagem a Clara Nunes, Victor Dzenk doa vestido a museu de MG

O modelo cedido por Dzenk é feito de seda, chiffon e fios de lurex. A estampa faz alusão à música Sabiá, de Clara Nunes, interpretada por Aline durante o desfile do estilista.Victor Dzenk doou o vestido que a cantora Aline Calixto usou durante seu desfile, na última terça-feira (09) durante o Minas Trend, ao Museu Têxtil Décio Magalhães Mascarenhas. Em sua apresentação, o estilista prestou homenagem à cantora Clara Nunes, que trabalhou na empresa de 1956 a 1958.
            Natureza e moda em comunhão na apresentação do estilista mineiro Victor Dzenk, que abriu, nesta terça-feira (9), na Praça das Águas, no Parque das Mangabeiras, o segundo dia de Minas Trend Preview, edição verão 2014. Com cenário idílico da Serra do Curral ao fundo, Aline Calixto, cantora e amiga do estilista, entoou ao vivo e em cores "Um ser de luz", de João Nogueira, e imprimiu nova roupagem a "Conto de Areia", música cantada por Clara Nunes, fonte de inspiração de Dzenk.

Da musa que disseminou a música afro e o samba, o estilista se apoderou da modelagem afastada do corpo em vestidos longos e kaftans semelhantes à roupa usada pela cantora. A flor usada na vasta cabeleira da "Morena de Angola" por hora foi substituída por charmosas casquetes de pedaços de tecido recortados.  

Uma Clara Nunes contemporânea foi idealizada por Dzenk que aboliu o branco, cor preferida da cantora, e alegrou a coleção com motivos de sabiás, flores do campo, por-do-sol, pavão e flamboyans gigantes. Os desenhos foram recriados no jérsei, cetim, seda, triacetato, linho, malha prene, gaze de seda, entre outros tecidos nobres, e originaram série de vestidos, carro-chefe da coleção, calças tipo pijama, maiôs, blazers e até legging, que diga-se de passagem, conferiu contemporaneidade aos looks com aposta na sobreposição.

Dessa vez, o clima de romantismo arrefeceu a exuberante estamparia digital, traço marcante do trabalho do estilista, por conta da escolha da cartela pontuada por lima da terra,azul oceano, rosa flamboyan, cenoura e cáqui. Além disso, a aplicação de tule, elemento revelador de sensualidade, reforçou a ideia de fantasia uma vez que recortes estampados davam a impressão de ficar soltos sobre o corpo das modelos.

08 abril 2013

LP As forças da natureza


As forças da natureza': o 'manifesto ambiental' de Clara Nunes

Leonardo Guedes | 07/04/2013 
A preocupação mais mobilizada com a preservação ambiental e com os rumos que as inovações tecnológicas estavam tomando na humanidade começaram a tomar forma na década de 1970. Em 1977, a cantora Clara Nunes lançou um disco que pode ser citado como um exemplo de manifesto em defesa do meio ambiente e da paz. E de excelência autoral e instrumental também: "As forças da natureza", pela gravadora Odeon. O momento profissional de Clara era de continuidade de auge: as vendas de seus discos passavam da casa das cem mil cópias e, comercialmente, a artista ficou consagrada como a primeira cantora brasileira a superar um tabu da época no mercado musical brasileiro, o de que mulher cantando não era sinônimo de recorde de vendas. A produção de "As forças da natureza" esteve à cargo de Milton Miranda, Renato Corrêa e do marido de Clara, o compositor Paulo Cesar Pinheiro.
Pela primeira vez desde que começou a carreira, a cantora mineira não teve a imagem estampada na capa. Desta vez, o que estava presente era a foto de uma pedra sendo atingida por uma gota d'água, uma imagem que remete ao dito popular "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". A intenção artística reforça a mensagem de sintonia intensa com a natureza e a espiritualidade tão marcante na vida de Clara, cuja imagem estava presente na contra-capa, em saudação à imensidão do mar. A produção era aberta pela faixa-título composta por Paulo Cesar e João Nogueira, uma emocionada transcrição de um Apocalipse ao contrário: "Vai resplandecer / Uma chuva de prata do céu vai descer / O esplendor da mata vai renascer / E o ar de novo vai ser natural / Vai florir / Cada grande cidade o mato vai cobrir / Das ruínas um novo povo vai surgir / E vai cantar afinal...".
A sequência apresentou uma divertida denúncia sobre os tempos modernos e, ao mesmo tempo, uma homenagem à uma artista reverenciada: "Partido Clementina de Jesus", autoria de Candeia, que contava com a participação da citada. A música tornou-se uma espécie de "carteira de identidade" da Rainha Quelé, com o refrão "Não vadeia Clementina / Fui feita pra vadiar... Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar, eu vou..." sendo uma das primeiras lembranças quando seu nome é citado. O termo "vadiar" na composição, ao contrário do que se possa imaginar, não tem o significado literal de desocupação ou vagabundagem, mas de "curtir" a vida com bom humor apesar dos pesares. O sucesso foi tanto que mereceu até uma paródia antológica de Renato Aragão e Mussum no humorístico "Os trapalhões".
Continua:

05 abril 2013

Clara homenageada nas passarelas


Minas Trend Preview tem line-up reduzido e 

homenagem a Clara Nunes




Documentos e fotos de Clara Nunes quando foi funcionária da Cedro Têxtil em Caetanópolis, nos anos 50 

02 abril 2013

Correio Braziliense - Clara ainda emociona os fãs



Após 30 anos da morte de Clara Nunes, a cantora continua emocionando os fãsMesmo depois de três décadas, Clara Nunes ainda é referência musical para novas gerações de cantoras



Publicação: 02/04/2013 07:30 Atualização: 01/04/2013 17:34
 (Wilton Montenegro/Divulgação
)


Há exatos 30 anos, o Brasil chorava a perda do canto imponente de Clara Nunes. A mineira guerreira, com vestido rendado, pulseiras, tiaras e farta cabeleira vermelha evocava as raízes africanas em seu samba, que sacramentou o poder feminino na música brasileira. Com o LP Alvorecer, ela foi a primeira mulher a ultrapassar a marca de 500 mil cópias vendidas. Sua interpretação e sua estética inspiram até hoje gerações de cantoras e parceiros antigos não cansam de reverenciar a diva que teria completado 70 anos em 2012. “Clara era a própria representação da força brasileira. Veio de uma pequena cidade mineira chamada Paraopeba e nunca perdeu a simplicidade e a humildade. Ela marcou a alma do povo pelo canto simples e pela maneira de ser”, afirmou Paulo César Pinheiro em entrevista feita em 2011. Viúvo da cantora, ele teve mais 20 composições gravadas por ela — hoje em dia prefere não comentar o passado.

Em Brasília, Clara também é fonte de inspiração. Artistas da cidade, como Ana Reis, Cris Pereira e Renata Jambeiro (veja o quadro) mantêm vivo o legado deixado pela estrela. “Ela continuou um trabalho começado por Carmen Miranda, ao falar de miscigenação, ter malícia, ser dona da letra, e principalmente, mostrar que mulher também podia vender disco”, diz Renata, que não abre mão de músicas da cantora no repertório.

Essa influência é nítida em todo o país. A cantora pernambucana Karynna Spinelli, dona de uma estética muito semelhante à da artista mineira, fez um tributo recente, em Recife, com duas mil pessoas na plateia e a participação do músico Jorge Simas, que acompanhou Clara. “Toda a história dela me sensibiliza e emociona, mas escolho, em especial, a honra e a coragem de falar do candomblé. Em dias de intolerância religiosa forte no Brasil, ela é uma das minhas inspirações para falar de religião. Sinto-me livre e sem amarras para cantar a força dos espíritos e dos orixás com minha música”, conta Karynna.

No Rio de Janeiro, a memória de Clara pulsa nas obras de antigos parceiros. Delcio Carvalho teve sua história transformada pela cantora e acabou mudando o curso da carreira dela também: ele é o compositor da música Alvorecer. “Depois, Clara gravou Derramando lágrimas. Cheguei a mostrar Sonho meu (criada com Dona Ivone Lara), mas achei que ela não tinha gostado. Sorte que Maria Bethânia estava procurando algo para gravar, gostou e a música acabou acontecendo (risos). Com exceção das que já nasceram na tradição, como Elza Soares, Clara foi a maior cantora de samba do país”, lembra o sambista carioca.

Material raro

As homenagens a ela nunca cessaram, mas ganharam fôlego com a proximidade do septuagésimo aniversário. Em janeiro de 2011, o projeto Contos de Areia — 70 Anos de Clara Nunes reuniu músicos no CCBB Brasília para revisitar a obra da artista. Na Sapucaí, o enredo de 2012 da Portela foi “... E o povo na rua cantando. É feito uma reza, um ritual”, saudando a Bahia e Clara. Em dezembro, o Canal Brasil exibiu uma série com depoimentos de amigos e familiares, primeiro episódio de uma sequência de tributos organizados pelo jornalista Vagner Fernandes, autor da biografia Clara Nunes — Guerreira da utopia.

“O objetivo da série Clara era traçar um panorama da trajetória da Clara artista e da Clara mulher. Mas tínhamos o tempo como limitador. Há muito o que se falar sobre ela, então a série será ganhará materiais extras antes de chegar aos cinemas”, conta Fernandes. Além do filme dirigido por Darcy Burger, o biógrafo revisou os 16 álbuns da cantora — que serão relançados em formato avulso e em box — e reeditou o livro lançado em 2007 e há um ano e meio esgotado nas prateleiras. “É uma edição revista e ampliada. Quero incluir informações como o encarte todo em japonês de um programa que ela participou naquele país, e áudios inéditos”.

Entre essas raridades estão as gravações do show Sabor bem Brasil, em que Clara canta ao lado de Luiz Gonzaga, João Bosco, Waldir Azevedo e Altamiro Carilho; da apresentação em Abidjan (Costa do Marfim) com João Nogueira; e dos ensaios do show Sabiá, sabiô, com direção de Hermínio Bello de Carvalho. Os materiais são do técnico de som Genival Barros, que trabalhou com a artista mineira e hoje faz parte da equipe de Roberto Carlos. “Fui buscar outra gravação com o Genival, quando ele disse que teria algo melhor do que eu procurava. Isso foi no fim de 2011. Sabiá, sabiô tem músicas que não faziam parte da discografia oficial dela, como Quando o carnaval chegar, de Chico Buarque”, diz Fernandes.

Assim como os projetos anteriores, uma exposição dedicada à cantora está prevista para o segundo semestre deste ano. A mostra acontecerá no Rio e terá vídeos, áudios e imagens inéditas. “Quero contar de fato quem foi Clara Nunes. Dar a Clara o que ela merece. Ela é uma das maiores cantoras do Brasil. E digo no presente porque 30 anos depois ela continua sendo lembrada. Clara e sua obra são atemporais”.


Salve, Clara! CONTINUA:

Jornal da Paraíba- O legado da Guerreira


VIDA E ARTE
Matéria do Jornal da Paraíba

O legado da Guerreira

Há exatos trinta anos o Brasil perdia a cantora mineira Clara Nunes; biografia da artista será relançada para homenagear a artista.

Ilustração: William Medeiros
Trinta anos depois de sua morte, Clara Nunes permanece viva ao lado de grandes artistas brasileiros que marcaram época

“Clara é uma artista atemporal. Assim como a artista, o seu legado também é atemporal, não é datado”, define o jornalista carioca Vagner Fernandes, autor da biografia Clara Nunes - Guerreira da Utopia.
Se 2012 foi o ano em que o Brasil lembrou a gaúcha Elis Regina, por conta do hiato de três décadas de ausência do ‘furacão’, a mineira Clara Nunes também ganha homenagens pela sua vida dedicada à música e às raízes culturais afro-brasileiras.
Nesta terça-feira, faz exatos 30 anos de sua morte, após passar 28 dias em coma decorrente de um choque anafilático, quando fazia uma cirurgia de varizes, aos 40 anos.
Dentre os tributos, Fernandes conta que será relançada, em breve, a biografia escrita por ele, publicada originalmente em 2007 pela Ediouro, atualmente esgotada. De acordo com o escritor, Clara Nunes - Guerreira da Utopia está em negociações com uma nova editora, ganhando uma edição revista e ampliada com informações que o biógrafo vem colhendo ao longo dos últimos anos. “O livro terá um programa dos espetáculos realizados no Japão, em 1982”, exemplifica.
Vagner Fernandes queria relançar a biografia nesta data de morte, mas um dos motivos do atraso corresponde ao processo de liberação dos direitos autorais do abundante material fotográfico na obra. “Ler e acompanhar visualmente traduz melhor a trajetória de Clara”, aponta.
OBRA COMPLETA 
Além de abraçar a cultura afro-brasileira sem temer represálias e preconceitos, a ‘Guerreira’ também revolucionou o mercado fonográfico nacional junto com nomes como Beth Carvalho e Alcione, aderindo ao samba no seu repertório. Clara Nunes foi também a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias.
Fernandes é responsável por organizar um box que terá toda a discografia da cantora mineira. Segundo o jornalista, a discografia de Clara foi relançada em dois momentos: em 1997 e 2003, sendo este último uma coleção onde cada CD reunia dois LPs da artista.
Fernandes prevê que a nova caixa sairá ainda este ano pela EMI, remasterizada e preservando a individualidade de cada trabalho da cantora, bem como a representação de seus encartes originais.
A voz que imortalizou sucessos como ‘Morena de Angola’ (de Chico Buarque) e ‘O mar serenou’ (de Candeia) poderá, ainda, ser conferida em dois áudios inéditos que Fernandes garimpou: uma apresentação da turnê Sabor Bem Brasil (1978), com nomes como João Bosco, Gonzagão e Altamiro Carrilho, e um show em Abidjan, na Costa do Marfim (1979), junto com João Nogueira. “Estamos negociando e deve virar CD”. Nos planos deste ano do biógrafo, haverá também uma exposição sobre a cantora no Rio de Janeiro.
Recentemente, a baiana Mariene de Castro lançou uma homenagem a cantora com Ser de Luz (Universal) e a mineira Aline Calixto disponibilizou para download gratuito no FaceBook uma releitura de ‘Conto de areia’ (Romildo Bastos/Toninho Nascimento) com participação do rapper Emicida.
Trinta anos depois de sua morte, Vagner Fernandes tem absoluta convicção que a artista continua ‘viva’ pelo carinho e predileção do público, ao lado de nomes consagrados como Elis, Gal e Bethânia.

Diário de Pernambuco

Clara Nunes: um eco que já dura 30 anosMorte da cantora é lembrada com tributos, projetos temáticos, inauguração de um museu

    Uma efeméride na música pautou tributos, projetos temáticos, inauguração de um museu e reportagens em 2012: os 70 anos de Clara Nunes - celebrados dia 12 de agosto. As homenagens à intérprete mineira se estendem para assinalar os 30 anos de saudade. Em 1983, faleceu após ficar quase um mês em coma, quadro resultado de uma alergia à anestesia durante cirurgia de retirada de varizes.

    Três décadas se passaram e a obra interpretada pela artista ecoa com expressão. A importância do Ser de luz - síntese criada por João Nogueira, Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte para definir Clara Nunes - é reverberada. Em Pernambuco, sambistas a colocam numa espécie de andor imaginário, sobretudo por proliferar o gênero musical e a cultura afro-brasileira ou por aumentar o espaço para intérpretes femininas em gravadoras.

Revista Época-m30 anos sem Clara Nunes


CLARA NUNES - 02/04/2013 07h00
TAMANHO DO TEXTO

Trinta anos sem Clara Nunes

Cantora ainda é celebrada como uma das maiores representantes da música popular brasileira. Baú da artista guarda raridades, como o áudio de um show feito em Abdijan, na Costa do Marfim

DANILO CASALETTI
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Clara Nunes (Foto: Paulo Wrencher / Agência O Globo)

Clara Nunes não gostava de ser chamada de sambista. Embora essa imagem persista 30 anos após a sua morte, completados nesta terça-feira (2). E, realmente, Clara era muito mais que isso. “Ela detestava o termo sambista. Achava-o reducionista. Ela se considerava uma intérprete da MPB”, diz o jornalista Vagner Fernandes, autor da biografia Clara Nunes – Guerreira da Utopia(2007).
Clara nasceu em Caetanópolis, em Minas Gerais, em 1942, e começou sua carreira no final da década de 50 cantando em estações de rádio de Belo Horizonte. Em 1966, gravou seu primeiro disco, A voz adorável de Clara Nunes, com sambas-canção e boleros. A gravadora Odeon (atualmente EMI), na qual Clara gravou todos os seus discos, queria que a cantora fosse uma espécie de Altemar Dutra – cantor romântico de sucesso na época – de saias.
Mas Clara conseguiu escapar da armadilha de seguir uma receita para alcançar o estrelato. No início da década de 70, com apoio do produtor Adelzon Alves, reinventou-se como artista. Com o samba “Você passa e eu acho graça”, de Carlos Imperial e Ataulfo Alves, inaugurou uma nova fase na carreira. Essa sim, de muito sucesso. Em entrevista ao jornal O Globo, em 1973, a cantora declarou: “Eu não tinha alguém que ouvisse os meus planos e aceitasse as minhas pesquisas. Ele (Adelzon) ouviu, me deu o apoio necessário”, disse.
Nas “pesquisas” de Clara estava o resgate de compositores como Candeia, Cartola e Nelson Cavaquinho e, na segunda metade da década de 70, um mergulho nas raízes afro-brasileiras. “Ao longo de sua trajetória, Clara provou que podia cantar muito bem diversos compositores, como Luiz Gonzaga, Chico Buarque e Vinicius de Moraes, além de diversos ritmos”, diz Vagner Fernandes.
Um dos registros que ilustra muito bem a pluralidade de Clara é o CD O poeta, a moça e o violão, gravação do show que a cantora fez em 1973 ao lado de Vinicius de Moraes e Toquinho. “Na época, Clara despontava com todo talento que acabaria confirmado ao longo de sua carreira”, diz Toquinho. O cantor e compositor diz ainda que a cantora era uma pessoa especial. “Doce na convivência e extremamente profissional, interessada e envolvente. Além do talento como intérprete afinadíssima, com um timbre de voz forte e vibrante, completado pela graciosa presença de palco”, afirma.

Clara Nunes, Vinicius de Moraes e Toquinho (Foto: Arquivo Agência O Globo)


Parte da postura no palco, Clara adquiriu no período no qual trabalhou na peça “Brasileiro Profissão Esperança”, em 1974, ao lado do ator Paulo Gracindo, dirigida por Bibi Ferreira. Com Bibi, Clara ganhou teatralidade.
Da segunda metade da década de 70 até seu último disco, em 1982, Clara intensificou seu mergulho nas raízes afro-brasileiras e no samba. Levou para o palco, sempre com muita receptividade, canções que traziam elementos do candomblé, sua religião, garimpou novos compositores – sem se esquecer dos tradicionais, sobretudo os da Portela, sua escola de samba do coração – e emplacou sucessos como “Canto das três raças”, “O mar serenou”, “Coisa da antiga”, “Guerreira”, “Feira de mangaio”, “Morena de Angola” e “Portela na avenida”.
Para o biógrafo Vagner Fernandes, o repertório e a atitude de Clara no palco revelavam muito mais que uma opção artística. “Clara era mulher séria, mas muito doce. E tinha a música como instrumento de conciliação”, diz. “A maneira como ela se posicionava era muito particular. A estética dela, não visual, mas sonora, de buscar nossas raízes africanas, refletia seu posicionamento político”, afirma Fernandes.
A sofrida morte da cantora, no dia 2 de abril de 1983, aos 39 anos, após quase um mês em coma em decorrência de um choque anafilático, ajudou na criação do mito Clara Nunes. Na época, as especulações em torno da morte da cantora foram inúmeras: tentativa de inseminação artificial, aborto e até uma surra que teria sido dado pelo marido, o compositor Paulo César Pinheiro, de quem Clara gravou inúmeras canções. O biógrafo refuta todas, além de considerá-las fantasiosas.

Clara Nunes (Foto: Arquivo Agência O Globo)













O fato é que Clara internou-se para fazer uma cirurgia simples para a retirada de varizes. Segundo Fernandes, Clara havia ficado traumatizada com a morte da amiga Elis Regina, um ano antes. Como a cantora foi autopsiada, Clara ficou com pavor de corte e, por isso, pediu que o médico usasse uma anestesia geral e não a peridural (anestesia aplicada nas costas, entre as vértebras). Um erro médico também foi uma das hipóteses ventiladas na época. “Para escrever o livro, consultei a sindicância aberta pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) e não há nenhum indício de erro médico. Foi uma fatalidade”, diz Fernandes.

Baú de Clara ainda guarda raridades
Clara Nunes (Foto: Manoel Soares / Agência O Globo)

Embora figure nas listas das mais importantes cantoras brasileiras, o legado de Clara Nunes não teve, depois de sua morte, a garimpagem que merecia. Em comparação com Elis Regina, por exemplo, que já teve pelo menos uma dezena de CDs e DVDs lançados com materiais raros ou inéditos, as iniciativas em torno da obra de Clara são ínfimas. Além da biografiaClara Nunes – Guerreira da Utopia, de Vagner Fernandes, atualmente esgotada, apenas um DVD com clipes que Clara gravou para o programa Fantástico e uma caixa que reuniu o relançamento de seus discos, também em edição já esgotada, fizeram a alegria dos admiradores de Clara nos últimos 30 anos.
Material não falta. Fernandes, que atualmente trabalha em uma edição revista e ampliada do livro que escreveu sobre a cantora mineira, pretende incluir, na nova edição, dois áudios do show “Sabiá sabiô”, que Clara faria com o compositor Hermínio Bello de Carvalho, em 1972. São eles "Mané fogueteiro" (João de Barro) e "Quando o carnaval chegar" (Chico Buarque). “Um dos grandes sonhos de Clara era trabalhar com o Hermínio. Mas, em meio aos ensaios, houve um desentendimento e ele deixou o projeto. Clara ficou tristíssima”, diz Fernandes. 
Há mais: dois shows completos da década de 70 gravados pelo produtor Genival Barros. Um é o registro da apresentação de Clara em Abdijan, na Costa do Marfim (África), da segunda vez que Clara fez shows em território africano. O outro traz a gravação da turnê Sabor bem Brasil, de 1978, na qual Clara rodou ao país em um show coletivo ao lado de Waldir Azevedo, Altamiro Carrilho, Caçulinha, Geraldo Vespar, João Bosco e Luiz Gonzaga. 
O desafio agora é conseguir a autorização de todos os músicos e herdeiros envolvidos nas gravações para que elas possam ser lançadas. “Tem herdeiro que pede uma quantia alta, o que inviabiliza o projeto. Por que a gravadora gastaria R$200 mil em um produto que deve render R$ 5 ou R$ 10 mil?”, diz Fernandes. No ano passado, um impasse de valores entre músicos e a Universal Music abortou o projeto de colocar nas lojas um registro raro da cantora Elis Regina.
A gravadora EMI, que detém toda a obra de Clara, prometeu relançar a caixa com os CDs da cantora. Há planos também de lançar um DVD com um especial que Clara gravou para a televisão em 1973. Procurada por ÉPOCA, a EMI disse que a intenção é lançar os dois produtos ainda no primeiro semestre de 2013.