Blog Clara Nunes: LP As forças da natureza

08 abril 2013

LP As forças da natureza


As forças da natureza': o 'manifesto ambiental' de Clara Nunes

Leonardo Guedes | 07/04/2013 
A preocupação mais mobilizada com a preservação ambiental e com os rumos que as inovações tecnológicas estavam tomando na humanidade começaram a tomar forma na década de 1970. Em 1977, a cantora Clara Nunes lançou um disco que pode ser citado como um exemplo de manifesto em defesa do meio ambiente e da paz. E de excelência autoral e instrumental também: "As forças da natureza", pela gravadora Odeon. O momento profissional de Clara era de continuidade de auge: as vendas de seus discos passavam da casa das cem mil cópias e, comercialmente, a artista ficou consagrada como a primeira cantora brasileira a superar um tabu da época no mercado musical brasileiro, o de que mulher cantando não era sinônimo de recorde de vendas. A produção de "As forças da natureza" esteve à cargo de Milton Miranda, Renato Corrêa e do marido de Clara, o compositor Paulo Cesar Pinheiro.
Pela primeira vez desde que começou a carreira, a cantora mineira não teve a imagem estampada na capa. Desta vez, o que estava presente era a foto de uma pedra sendo atingida por uma gota d'água, uma imagem que remete ao dito popular "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". A intenção artística reforça a mensagem de sintonia intensa com a natureza e a espiritualidade tão marcante na vida de Clara, cuja imagem estava presente na contra-capa, em saudação à imensidão do mar. A produção era aberta pela faixa-título composta por Paulo Cesar e João Nogueira, uma emocionada transcrição de um Apocalipse ao contrário: "Vai resplandecer / Uma chuva de prata do céu vai descer / O esplendor da mata vai renascer / E o ar de novo vai ser natural / Vai florir / Cada grande cidade o mato vai cobrir / Das ruínas um novo povo vai surgir / E vai cantar afinal...".
A sequência apresentou uma divertida denúncia sobre os tempos modernos e, ao mesmo tempo, uma homenagem à uma artista reverenciada: "Partido Clementina de Jesus", autoria de Candeia, que contava com a participação da citada. A música tornou-se uma espécie de "carteira de identidade" da Rainha Quelé, com o refrão "Não vadeia Clementina / Fui feita pra vadiar... Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar, eu vou..." sendo uma das primeiras lembranças quando seu nome é citado. O termo "vadiar" na composição, ao contrário do que se possa imaginar, não tem o significado literal de desocupação ou vagabundagem, mas de "curtir" a vida com bom humor apesar dos pesares. O sucesso foi tanto que mereceu até uma paródia antológica de Renato Aragão e Mussum no humorístico "Os trapalhões".
Continua:

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