Blog Clara Nunes: A história do amor eterno entre Clara Nunes e a Portela

01 fevereiro 2019

A história do amor eterno entre Clara Nunes e a Portela

A história do amor eterno entre Clara Nunes e a Portela

No último dia 2 de abril , completaram-se 35 anos da morte estúpida e precoce de Clara Nunes. Tempo suficiente para muita gente que gosta do samba perder a noção da força e da importância desta mulher para a cultura popular, a música brasileira e também para a Portela, que acaba de completar 95 anos de fundação.
Documentário do Canal Brasil sobre Clara Nunes 
Clara Nunes foi uma das principais cantoras brasileiras, dona de uma voz potente e cheia de recursos. Foi a primeira mulher a vender mais de 100 mil discos. Nascida em Minas, chegou ao Rio de Janeiro nos anos 1960, depois de fazer sucesso no rádio em Belo Horizonte. No Rio, foi substituindo aos poucos os boleros que marcaram seus primeiros trabalhos pelo samba e outros ritmos afro-brasileiros. E apesar do repertório popular, cantou e fez parcerias musicais com alguns dos principais nomes da música brasileira no seu tempo, como Vinícius de Morais, Tom, Baden Pawell, entre outros. Converteu-se à umbanda, fato que teve grande influência em seu repertório, fazendo inclusive uma espécie de profissão de fé na música de abertura do álbum Guerreira, de 1978. 
O clipe de Guerreira:
Ao ampliar o espaço para o samba em seu repertório, Clara passou a frequentar escolas de samba. O seu terreiro era em Madureira, o que facilitou a aproximação com a Portela. A relação ficou tão profunda que a principal cantora da música brasileira nos anos 1970 lançava discos primeiro na quadra da escola.
Em seus trabalhos gravou diversos sambas-enredo, de várias escolas, inclusive da Portela como, Ilu Ayê, de 1972. No carnaval de 1975, Clara Nunes foi intérprete oficial da escola na avenida, com o enredo Macunaíma. Seu repertório ainda inclui músicas compostas com estrutura de samba-enredo, caso de O Canto das 3 Raças Brasil Mestiço, sem contar aquele que é o mais famoso deles: Portela na Avenida, uma ode à escola, lançada por Clara Nunes em 1981 e que se transformou em hino para a Águia, sendo cantada na concentração da Portela como esquenta.
Sua interpretação de Macunaíma: 
Clara Nunes foi intérprete, mas gostava mesmo era de desfilar no chão, o que fez até o carnaval de 1983. Eu me lembro de vê-la passar pela Sapucaí, inclusive no desfile das Campeãs, já dia claro, saudando as pessoas. Dias depois, internou-se num hospital para um cirurgia para correção de varizes. A versão oficial dá conta de que sofreu um choque anafilático, causado por reação à anestesia. Ficou em coma durante quase um mês e morreu em um Sábado de Aleluia, no dia 2 de abril, pouco mais de um ano depois de Elis Regina.
 O velório de Clara foi no Portelão, por onde passaram mais de 50 mil pessoas. Madureira parou e chorou na saída do cortejo para o cemitério São João Batista, onde foi enterrada. A voz do Sabiá, como era carinhosamente conhecida, se calou, mas sua memória paira como uma grande baluarte portelense.
 Desfile de 1984: 
Costumava ela dizer que “se tem um lugar que eu sei que nunca serei esquecida, é na Portela”.  Pura verdade. No ano seguinte, Clara Nunes fazia parte do enredo Contos de Areia (nome de um de seus sucessos) junto com portelenses ilustres como o fundador  Paulo da Portela, o grande compositor Candeia e Natal, que  presidiu a azul e branco por grande parte de sua trajetória vitoriosa.
 Desde sua morte, para compositores portelenses o verbo “clarear” não significa apenas o alvorecer. É sobretudo lembrar desse ser de luz, mesmo quando não é citada na sinopse do enredo. “Como se fosse magia, nosso poeta alcançou, no afã da poesia, foi aí que clareou…” (Portela 1987).
 Mais recentemente, no início do renascimento da escola, trazido pelo grupo Portela Verdade, Clara voltou a fazer parte de enredos. Em 2012, fez parte da homenagem à Bahia e aos rituais africanos com um samba antológico.
 No desfile de 2012, Clara foi representada por Vanessa da Matta e veio no último carro (Pra ver, a caracterização, vá até 59 minutos): 
Finalmente, em 2017 o enredo Quem Nunca Sentiu Seu Corpo Arrepiar ao Ver Este Rio Passar, idealizado por Paulo Barros, falou sobre a água doce e aproveitou para relembrar a metáfora do desfile da escola de samba como o fluir de um rio. Ela era uma das homenageadas do cortejo de baluartes que navegou entre as alas da escola.  Sob as bênçãos dela, a Portela voltaria a ser campeã, depois de 33 anos. O último título havia sido justamente o de 1984.
 O desfile campeão de 2017:
A Portela sonha um dia poder levar para a avenida um enredo inteiro sobre Clara Nunes, um nome que levava a Águia Altaneira por onde fosse, tendo feito shows em lugares tão distintos de Madureira quanto Suécia e Japão, onde ainda hoje tem fãs. Homenagear Clara é fazer uma ode à Portela, que acaba de completar 95 anos, no dia 11.
 Depois da morte de Clara Nunes, João Nogueira compôs a música em sua homenagem, Um Ser De Luz, interpretada por Alcione.

Transcrito do blog:
https://mestrecarnaval.camarotecarnaval.com/a-historia-do-amor-eterna-entre-clara-nunes-e-a-portela/

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