Blog Clara Nunes: Em tempos da ditadura

06 setembro 2012

Em tempos da ditadura


O blog Clara Voz de Ouro repudia a nota inverídica que vem à público após 40 anos para difamar o nome de Clara Nunes. As pessoas que conheceram Clara de perto têm recebido com espanto e reação esta notícia lamentável que só serve para fomentar uma discussão preconceituosa. Os outros artistas citados na nota estão vivos para se defender. E Clara? A quem cabe esta defesa? 


A família neste momento pede aos fãs e admiradores que saiam em defesa e honra do nome da cantora  que não pode se defender por não estar mais entre nós!

Clara Nunes? Mentira deslavada. Clara ,Mario Lago e Sérgio Cabral, Chico Buarque e outros foram solidários com os presos políticos e  aqui em Minas,Clara participava de movimentos conscientes,como operária.Perguntem ao Sergio Cabral e ao Chico Buarque. Covardia falar de quem não mais pode responder! (Neide Pessoa)



Na ditadura, documento complica artistas       Jornal do Brasil

Roberto Carlos e Clara Nunes citados pelo Exército

Documento do Exército revela nome de delatores no meio artístico

MINISTÉRIO DO EXÉRCITO
GABINETE DO MINISTRO
CIE/GB
ENCAMINHAMENTO 71/s-103.2.cie
Acervo Arquivo Nacional – COREG
Durante a ditadura militar, todas as publicações e obras – livros, programas de tv e rádio, eram obrigadas a verificação de um grupo de censores. Os critérios eram subjetivos e iam desde os aspectos ideológicos e políticos, até os relacionados a costume. Os censores indicavam os trechos, e muitos casos, a obra toda que não poderia ser divulgada.
Nesse contexto alguns artistas com o intuito de estar bem com regime viraram delatores, passando informações sobre o que acontecia no meio, chegando ao ponto de caluniar colegas e serem moleques de recado dos agentes da ditadura.

No documento em anexo emitido pelo Centro de Informações do Exército são revelados alguns desses dedo-duros, considerados como amigos, aliados do regime. Segundo o informe certos órgãos de imprensa estariam publicando matérias denegrindo a imagem de “determinados artistas que se uniram à revolução (sic) de 1964 no combate à subversão e outros que estiveram sempre dispostos a uma efetiva COLABORAÇÃO com o governo”.Entre outros são citados Wilson Simonal, Roberto Carlos,Agnaldo Thimóteo,Clara Nunes, Wanderleiy Cardoso e Rosemary.





Na ditadura, militares complicam artistas em documento

Nomes como os de Roberto Carlos e Clara Nunes estão em informe do Exército em 1971.


Jornal do BrasilHenrique de Almeida






Na ânsia de prestar serviço a seus superiores, os militares e seus informantes que trabalharam do lado da repressão durante a ditadura militar (1964-1985) acusavam injustamente artistas, ainda que algumas vezes o fizessem como se os estivessem defendendo.
Um documento de 25 de novembro de 1971, Info 2755/71/S-103.2, do antigo Centro de Informações do Exército(CIE), a pretexto de acusar alguns jornais e revistas de "imprensa marrom", relaciona os "artistas que se uniram à Revolução de 64 no combate à subversão e outros que estão sempre dispostos a uma efetiva cooperação com o Governo".
Entre os nomes apresentados na lista a que o Jornal do Brasil teve acesso (veja abaixo) estão Aguinaldo Timóteo, Antônio Marcos, o conjunto a Brazuca, Clara Nunes, Wanderley Cardoso, Roberto Carlos, Rosemary e até o jogador Jairzinho, centro avante da Seleção Canarinha, tricampeã em 1970. São pessoas que não tinham o hábito de se posicionarem politicamente naquela época. Alguns eram até considerados "alienados" pelos intelectuais e artistas de esquerda, mas jamais haviam sido apontados como "colaboradores" da ditadura.
O "Informe" foi resgatado pelo ex-preso político, o jornalista Aluízio Ferreira Palmar, 69 anos, ex membro do MR-8, que foi para a fronteira tentar incitar uma guerrilha contra o regime militar. "Esse documento era do CIE, e foi difundido para outros órgãos de inteligência em todo o país pela Polícia Federal. Uma cópia foi parar na Coordenação Regional do Arquivo Nacional (Coreg). É um documento público, dentre os vários aos quais tive acesso", explica Palmar.
O documento
Estes documentos da época da repressão política por ele resgatados estão expostos em uma página na internet (www.documentosrevelados.com.br). Ali está, por exemplo, o Informe 2755, com o timbre do Ministério do Exército e o selo do Centro de Informações da corporação. O documento explicita:
"Está havendo uma tentativa progressiva de alguns grupos da imprensa nacional de ressurgirem a denominada "imprensa marron" (...) No momento, procuram atingir a honra de vários artistas populares, através de noticiário maldoso e infamante, alguns incidindo na vida íntima e privada dos mesmos. Observa-se, no entanto, que o desgaste recai, seguidamente, sobre determinados artistas que se uniram à Revolução de 64 no combate à subversão e outros que estão sempre dispostos a uma efetiva colaboração com o governo."



Documento lista nomes de artistas que estariam sendo atingidos pela dita " imprensa marrom".
Documento lista nomes de artistas que estariam sendo atingidos pela dita " imprensa marrom".

Em seguida, são citados os nomes dos artistas: José Fernandes, Wilson Simonal, Alcino Diniz, Rose Mary, Roberto Carlos, o jogador Jairzinho(Botafogo), Erlon Chaves, Agnaldo Thimóteo, Clara Nunes, João Dias, Wanderley Cardoso, o conjunto Brasuca, Lilico, Antônio Carlos, Marcos Lázaro e outros.
Pelo informe do Centro de Informações do Exército, os principais veículos responsáveis pelas difamações eram a Revista Intervalo, da Editora Abril; a revista Amiga, da Bloch Editores S.A; os "jornalecos semanais", de acordo com o documento, como o Pasquim e o ; e a coluna social do jornal A Última Hora (uma referência à coluna do jornalista Tarso de Castro).
O caso Simonal
Curiosamente, este "informe" ataca a chamada "imprensa marrom" que, segundo os informantes dos militares, estaria acusando artistas de estarem envolvidos com o regime ditatorial. Cita nomes que jamais foram apontados como colaboradores da ditadura, mas no meio destes inclui personagens conhecidos historicamente por terem feito o papel de delatores.
É o caso do cantor Wilson Simonal que foi condenado pelo crime de "extorsão mediante arma de fogo", pelo juízo da 23ª Vara Criminal. Ele conseguiu que seus amigos, agentes da Delegacia de Ordem Política e Social (o famigerado DOPS) espancassem seu ex-contador, Raphael Viviane, até que ele assinasse um documento abrindo mão de uma ação trabalhista que movia contra o cantor.
Conforme levantou o jornalista Mário Magalhães, na Folha de S.Paulo, em junho de 2009, na época houve pressão dos militares a favor do cantor por ele ser colaborador das Forças Armadas e informante do DOPS. Estas "atividades" paralelas do cantor constam do processo que o condenou. 
Outro citado no Informe do CIE foi o maestro Erlon Chaves, também já falecido. Ele, segundo pessoas que o conheceram bem, era um defensor dos governos militares, mas jamais foi informante ou delator. Apesar disto, acabou preso por "atentado à moral" ao fazer um show em que as bailarinas apresentaram uma dança mais erotizada. Ele jamais perdoou seus amigos do governo por esta prisão.
LIsta causa surpresa 
Apesar das explicações de Palmar,  em nota, a assessoria do Arquivo Nacional diz que os documentos em questão não constam nas bases de dados dos acervos do Sistema Nacional de Informações e Contrainformações - SisNI, tampouco há registros dos documentos reproduzidos por solicitação do Sr. Aluizio Palmar, quando de suas pesquisas na Coreg.
Autor da biografia de Clara Nunes, Vagner Fernandes se surpreendeu com a inclusão da cantora no documento e busca uma explicação para esse fato.



O nome de Clara Nunes apareceu na lista.
O nome de Clara Nunes apareceu na lista.

"A Clara Nunes gravou um samba do Chico Buarque, Apesar de você. O governo percebeu que o conteúdo da música era "revolucionário" e a EMI/ODEON obrigou-a a gravar o hino das Olimpíadas do Exército. Por causa disso ela foi muito massacrada por alguns jornais. Ela não era muito envolvida com política", explicou o autor.
 O próprio Aluízio Palmar ficou surpreso quando teve acesso à informação: "Clara Nunes nunca foi desse meio político. Me surpreendi, mas não dá para dizer que é uma montagem. É claramente um documento oficial."
Jairzinho, o único jogador de futebol citado no documento, rebateu a insinuação com poucas palavras:
"Eu sei o que é jogar bola, eu sei o que é fazer um país comemorar uma vitória na Copa do Mundo. O meu seguimento é só futebol, eu não me meto em política, nem naquela época eu o fazia."
A assessoria de Roberto Carlos não se pronunciou sobre o assunto.


5 comentários:

Anônimo disse...

Cadê o Paulo César Pinheiro? Não é possível que uma notícia dessas vai ficar impune sem um pedido de desculpas ao exercito brasileiro. Clara tem este direito.

Neide Pessoa disse...

Pedido de desculpas do exército, Eles é que devem pedir desculpas,perdão e beijar o chão
Pedido de desculpas ao exército,jamais!
Onde também o Adelzon Alves? Ele é quem sabia da Clara na época(doc.de 1971ou72)


Raphael Rabelo disse...

Se é DOCUMENTO DO EXÉRCITO carimbado ninguém pode admoestar a verossimilhança!
No entanto,Clara permanece nos corações de seus fãs!

Neide Pessoa disse...

Raphael: desde quando documento do exercito de época de ditadura e desmandos merece ou mereceu crédito?

Você acompanhou de perto o que estava acontecendo naquela época? Obrigada

Communa Brasil disse...

Ok, vamos supor que Clara apoiou a revolução de 64, mas cá entre nós, quem foi (algumas excessões) que não apoiou naquela época, tirando artistas e alguns intelectuais,milhares de famílias, comunicadores , trabalhadores saíram as ruas contra "uma subversão" na qual os militares criaram e enfiaram na cabeça da massa...1971, vejam bem, clara ainda não tinha a informação que provavelmente com o tempo ela adquiriu com a música afro e pró-operaria, não se tinha engajamento, então era fácil ser levada e manipulável,ela nem sambista ainda era 1971 e tampouco conhecida, lembro que Elis não era a favor da ditadura, mas levou pressão do estado na época e teve que baixar cabeça pro sistema.