Transcrevemos com exclusividade a matéria do Jornal Estado de Minas
desta quinta-feira,27/08/2009, da jornalista Alessandra Mello.
Foto:Beto Novaes/EM/D.A PressO legado de Clara
Acervo de Clara Nunes é guardado em pequena casa em Caetanópolis, no interior de Minas.
Família luta por patrocínios que permitam a abertura de memorial dedicado à cantora
Alessandra Mello
O acervo de cerca de 6 mil itens – vestidos, discos, centenas de fotos, troféus, colares e balangandãs – que pertenceram a uma das maiores cantoras do Brasil está guardado, há anos, num pequeno cômodo em Caetanópolis, à espera de patrocínio para se transformar em memorial. Foi naquela pequena cidade, a 96 quilômetros de Belo Horizonte, que nasceu, há 67 anos, Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, ou simplesmente Clara Nunes. Morta precocemente em 1983, vítima de complicações causadas por uma cirurgia de varizes, a Guerreira tem sua história intimamente ligada à terra natal. Antiga Cedro, ex-distrito de Paraopeba, a cidade abriga, sob a guarda de Maria Gonçalves da Silva, a Mariquita, irmã mais velha de Clara, um legado valioso da vida da cantora. Também está ali um capítulo importante da história da música popular e da cultura afro-brasileira.
Há duas décadas, a primogênita luta para preservar esse tesouro e abri-lo à visitação pública, mas o caminho não tem sido fácil. Pela quinta vez, o Instituto Clara Nunes, criado pela família, busca patrocínio por meio das leis de incentivo à cultura. Todas as tentativas fracassaram. Familiares da cantora aguardam, ansiosamente, o anúncio dos projetos aprovados pelo Fundo Estadual de Cultura, que vai destinar R$ 8 milhões ao interior de Minas Gerais.
Se tudo der certo, os R$ 200 mil solicitados serão investidos na adequação da casa que vai abrigar o memorial. O imóvel foi doado por um sobrinho da artista, Sued Gonçalves, que mora em Sete Lagoas.
Foto:Beto Novaes/EM/D.A Press
Maria Gonçalves da Silva, a Mariquita, toma conta de objetos
e da creche batizada com o nome da irmã famosa
Creche
A batalha, agora, é para concluir a catalogação e montar a infraestrutura necessária para transferir as peças para a casa, em frente à creche para crianças carentes batizada com o nome da cantora. Fundada por Mariquita, ela cumpre o sonho de Clara: ser mãe. A catalogação e a restauração do acervo foram feitas com a ajuda da historiadora Sílvia Brugger, professora da Universidade Federal de São João del-Rei, que estudou a vida e a obra da mineira. “Por meio do projeto de pesquisa, tomei conhecimento da magnitude do acervo de Clara. Quando começamos o levantamento, ninguém sabia ao certo o valor e a dimensão dele.
Catalogamos tudo, montamos o banco de dados com informações sobre todos os itens e o estado de conservação deles, além de sua descrição e contextualização histórica. Mas ainda não foi possível concluir o trabalho”, lamenta a historiadora. Parte foi financiada com verbas de projetos de pesquisa e com dinheiro do bolso dos envolvidos. Segundo Sílvia, os destaques da coleção são os vestidos longos, colares e as pulseiras – marca registrada de Clara.
Também há roteiros de espetáculos; fotos dela com personalidades, como o príncipe Charles, e de viagens; imagens católicas e guias, testemunhas da ligação da cantora com os cultos afro-brasileiros. “Clara não era a única, mas foi uma das pioneiras na valorização da cultura popular, da mestiçagem e das raízes afro-brasileiras. Ao longo da carreira, ela gravou pontos de congada, cirandas, puxadas de rede, jongos e forró. Não era apenas uma grande sambista”, destaca Sílvia, prestes a ganhar mais uma filha, que vai se chamar Clara. “A Sílvia contaminou toda a universidade com sua paixão pela obra da Clara. Sem o apoio dela, tudo ainda estaria guardado”, comenta Mariquita, lembrando os quase 10 anos que a coleção passou na fazenda de uma amiga da família. Logo depois da morte da intérprete, o marido dela, o compositor Paulo César Pinheiro, despachou tudo para Paraopeba.
O material ficara no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, montado pela artista. Na época, a Prefeitura de Paraopeba não se interessou pelo acervo e o entregou a Mariquita.
Foto:Beto Novaes/EM/D.A Press
Turismo
A expectativa é de que a abertura do memorial impulsione o turismo em Caetanópolis e dê fôlego ao Festival de Cultura Clara Nunes, cuja quarta edição foi realizada este mês. O evento teve o apoio do prefeito Romário Vicente Alves Ferreira (PSDB), de comerciantes e de empresários da cidade. O festival é sempre marcado para agosto, perto do dia 12, data de nascimento da artista. Este ano, a festa contou com a participação especial da Velha Guarda da Portela, escola do coração de Clara Nunes, cujo nome batiza a rua onde fica o barracão da agremiação.
Em Caetanópolis estão as fantasias e os adornos azuis-e-brancos com que a irmã desfilava. Empenhado na viabilização do memorial, o músico Márcio Guima, sobrinho da cantora, reforça que o maior objetivo da família é aproximar Clara do público. “Fizemos um projeto modesto. Captaremos recursos só para acondicionar o que está guardado e para abrir o acervo à visitação. Estamos otimistas em relação à verba do fundo para o interior. Se não der, não sei como será, pois não é fácil conservar tudo isso”, diz ele. “Só Deus, eu e as funcionárias da creche sabemos como é difícil manter isso aqui”, conclui Mariquita.
Foto:Beto Novaes/EM/D.A Press
Blog Clara Voz de Ouro
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9 comentários:
Que belo trabalho foi feito pelo jornal"Estado de Minas",
assinado pela competente
Alessandra Mello
Reconhecendo a importância de tudo feito pela Professora Silvia
e sem nehuma vaidade de minha parte,sou grata a Deus por ter tido a oportunidade de apresentar a professoraSilvia a Mariquita e abrir caminho para que este importante trabalho possa ter sido feito.
Um trabalho iniciado em minha casa,onde foram feitos os primeiros registros dos álbuns de Clara,que permitiram
o desdobramento da pesquisa e do
trabalho
Deus tem se servido também de mim para
que o acervo e a memória de Clara
esteja sendo preservada.
Unida a família de Clara,
peço a Deus vida suficiente para continuar manifestando minha gratidão a uma Clara Nunes,que em momento difícil, em plena ditadura,
foi solidária para comigo.
Aonde você estiver,obrigada,Clara.
Neide Pessoa
neide_pessoa@terra.com.br
Em Paraopeba, Caetanópolis e no em torno há uma rica cultura popular. Eu mesmo já assisti, de lá, um grupo de pastorinhas que foi memorável.
Em Minas existe tanto museu, será que um pequeno espaço pra Clara Nunes não é viável?
Nossa Guerreira merece!
Saulo Gomes
CE
maravilha de trabalho sobre a nossa querida clara nunes,parabéns alessandra mello,é preciso que tenha muito cuidado com essas preciosidades.
Deus, com certeza, em sua infinita misericórdia abençoará voce, Neide,que ainda terá o sonho realizado de ver esse Memorial aberto aos fãs, ávidos por Clara, e sorrirá de contentamento como resultado da luta empreendida, jamais esmorecida, de ajudar o Marcio e a Dindinha nessa jornada!
Certamente Clara estará ainda mais feliz e espargindo a sua luz, junto a voce que merece todo o reconhecimento do mundo pelo seu amor e dedicação!
Parabéns!!!!
A admiro muito!!!!
Sandra,obrigada pelas palavras de incentivo.
Que Deus a ouça!
Gostaria de conversar com você.
Caso queira,pode enviar seu e-mail
para
neide_pessoa@terra.com.br.
Meu carinho
TRABALHO EM UMA ESCOLA MUNICIPAL EM SÃO PAULO(REGIÃO DA CAPELA DO SOCORRO) QUE SE CHAMA EMEI "CLARA NUNES". NO MES DE SETEMBRO ESSA ESCOLA COMEMORARÁ 25 ANOS DE EXISTENCIA E FAREMOS UMA FESTA. GOSTARIAMOS MUITO DE PODER CONTAR COM A PRESENÇA DE ALGUM FAMILIAR OU OBJETO DE CANTORA CLARA NUNES PARA DEIXAR A NOSSA FESTA AINDA MAIS BONITA. SERIA POSSÍVEL CONSEGUIR ESSA AJUDA?
Eu cresci ouvindo e assistindo a Clara Nunes. Agora, aos 39 anos, adquiri toda a discografia, mais DVD e terminei na quinta-feira, dia 12 de maio, de ler a exuberante biografia do jornalista Vagner Fernandes. Sou do Rio de Janeiro, já verifiquei a casa onde Clara morou no Jardim Botânico, a partir de 1980. Creio que esta residência tenha sido vendida. O que podemos fazer aqui no Rio para impulsionar esse projeto do memorial que acompanho a algum tempo. É um absurdo não haver referência dessa que foi a maior cantora brasileira do século XX.
Como faço para ter contato com a "Dindinha". Tenho um grupo aqui no Rio interessadíssimo, gostaríamos de visitar Caetanópolis no feriado de Corpus Cristi. Seria possível conversar com a guerreira irmã de Clara? Quanto ao acervo: seria possível ter contato com esse rico material? Quanto a Professora Silvia: como contactá-la?
Sou Professor de Literatura Brasileira e um apaixonado pela Clara Nunes. Projeto escrever uma peça de teatro para ser estreada em 2013, quando Clara completa 70 anos de nascimento e, para minha dor, 30 anos de falecimento.
Também sou espírita, mas essa perda não me conformo!
Quem sabe o endereço da Clara Nunes no Jardim Botânico?
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