Clara Nunes e Paulinho da Viola.
Foto: Editora Edições de Ouro-Google book
Crônica de 2001 no site do acervo Hermínio Bello de Carvalho
Clara Nunes
Início de carreira, Clara começava a despontar. Musicalíssima, voz extremamente bonita, confessava que seu modelo artístico era o da Divina Elizeth, que, muitos anos depois, seria madrinha de sua união matrimonial com o maravilhoso letrista Paulo César Pinheiro. Estávamos todos hospedados no Normandie de São Paulo, hotel cativado pela TV Record para os artistas de fora. Vou para o apartamento de Linda Batista, peço a Aracy de Almeida que me apanhe lá (Denner viria pegar-nos para uma esbórnia noturna pela Paulicéia) e o encontro das velhas colegas de rádio deságua numa cantação de sucessos, Araca lembrando tangos antológicos – dá para imaginar? – e Linda embarcando de Lupicínio.
Isso me anima a chamar Clarinha: “Clara, vem pra cá!” Os uísques desciam fartos, tanto quanto as lágrimas que eu e Clarinha derramávamos de emoção, até que avisam que Denner já nos esperava à porta do hotel em seu suntuoso Cadillac. Convido Clara para nos acompanhar (Linda tinha outros compromissos). Clarinha, claro, não era de dizer não a essas esbórnias, e além do mais estávamos todos triscados.
E lá foi ela retocar maquiagem, ajeitar os cabelos (que eram fartos, farfalhantes, maravilhosos), uma cabeça espaventosa, enfim. Araca, ciumenta e exclusivista, demonstrou que lhe desagradara o convite, feito à sua revelia. Quando Clarinha finalmente chegou ao carro, Araca destilou seu veneno mais letal:
– Clarinha, meu amor, você está linda assim. Mas não dá pra arriar um pouco essa capota e jogar fora essa peruquinha cafona?
A reação de Clara (ainda desacostumada a dizer palavrão) foi inusitada:
– Aracy, vai tomar... vai tomar... vai tomar... no seu botão!
E, claro, incontinenti, voltou pro hotel.
Dona da situação, Araca ordena:
– Eu adoro a Clarinha. Vamos embora, Bello Hermínio?
Acervo online de Hermínio Bello de Carvalho
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