Blog Clara Nunes: Jornal O Tempo

09 abril 2015

Jornal O Tempo

CLARA NUNES

Um salve para a guerreira 

Musical “Deixa Clarear” chega finalmente a Belo Horizonte, hoje, e inicia turnê por sete cidades de Minas Gerais

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Conceito. Cercada por apenas quatro músicos, Clara Santhana dá vida a Clara Nunes nos palcos
PUBLICADO EM 09/04/15 - 03h00
Não foi à toa que Clara Nunes ficou conhecida como guerreira. Cantou de Candeia a Chico Buarque, mas passou a carreira fugindo dos rótulos de romântica, sambista e até macumbeira – este último por transformar o repertório religioso africano em músicas de sucesso. Teve a graça de se tornar a primeira mulher a vender 100 mil cópias de um disco no Brasil, mas nunca fez do sucesso uma condição para suas interpretações. Ao contrário, cantava Vinícius de Moraes e Elizeth Cardoso em festivais amadores por prazer, quando ainda tinha como profissão o ofício de tecelã.

Para destrinchar essas e outras facetas pouco exploradas da mineira Clara Nunes, dona de uma das vozes mais primorosas da música brasileira, o musical “Deixa Clarear” retorna aos palcos. Depois de ser visto por cerca de 45 mil pessoas em um ano, após a estreia no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, em 2013, a montagem inaugura temporada em Minas Gerais, a começar por Belo Horizonte, em estreia gratuita, hoje à noite, no Teatro Sesiminas. Depois da capital, o musical segue para uma turnê em outras sete cidades mineiras.
Longe da estética cronológica que ronda as biografias de musicais no Brasil, “Deixa Clarear” decidiu reverenciar Clara Nunes com um monólogo – a exemplo do que fez a montagem “Gonzaguinha – Eterno Aprendiz Eterno”, de 2013. A dramaturga Márcia Zanelatto, que assina o texto, se refere à escolha estética do musical como um biogratema. “Não há cronologia por dois motivos. Em primeiro lugar, a Clara não gostava de expor sua vida pessoal. Nunca mencionava em entrevistas namorado, brigas, casos, mágoas. Só falava de sua infância. Depois, ela ensinou muito por suas músicas, elas é que contam quem foi a artista, refletem suas posturas e atitudes”, avalia a escritora.
A responsabilidade de dar vida a Clara Nunes no palco e segurar o público com um monólogo de 75 minutos é da atriz Clara Santhana, 27, uma carioca nascida em Visconde de Mauá, e completamente apaixonada pela obra da cantora. Foi ela, aliás, quem convenceu Marcia Zanelatto e o diretor Isaac Bernat a levar a história da cantora guerreira aos palcos. “A gente não queria nada complexo. Cenário, figurino, nada, nada. Eu só queria mostrar pra juventude que Clara Nunes batalhava pela bandeira deles também. Por isso o monólogo funcionou tão bem. Entre as canções, estão dispostas pequenas reflexões de vida da Clara”, esclarece a atriz.
Dessa forma, “Deixa Clarear” expõe Clara Nunes ao público em várias facetas diferentes: desde o fracasso da estreia, quando a romântica intérprete topou gravar boleros e samba-canções no álbum “A Voz Adorável de Clara Nunes” (1966), por imposição da gravadora Odeon, até a Clara do Chacrinha, uma artista pop que atingiu a marca de 500 mil cópias vendidas com o LP “Alvorecer” (1974), ganhando o posto de queridinha de um dos maiores apresentadores da história da TV brasileira.
No palco, Clara Santhana se mune com pulseiras chamativas, saias rodadas, coroa de flores e pés descalços, sendo acompanhada apenas pelos músicos Luciano Fogaça (percussão), Bidu Campeche (percussão e cavaquinho), Felipe Rodrigues (violão) e Lauro Lira (flauta e violoncelo), que interpretam arranjos acústicos criados pelo diretor musical Alfredo Del Penho – também responsável pelos arranjos de “Gonzagão, a Lenda”, “Sassaricando” e “A Ópera do Malandro”. “No caso da Clara Nunes, é fácil ligar suas canções a sua própria vida. Ela descreve praticamente o Brasil naquilo que canta e não conheço outra cantora tão brasileira como ela”, diz Del Penho.
Assim, cada uma das 20 músicas do repertório contam várias passagens da vida de Clara Nunes. A exemplo de “A Deusa dos Orixás”, revelando sua devoção à umbanda, “Portela na Avenida”, em alusão à intérprete que mais gravou sambas da escola de coração, e “Morena de Angola”, inserindo o repertório de cânticos africanos e toque de atabaques na música brasileira. “Clara era uma defensora dos trabalhadores, uma estudiosa da música africana e uma cantora impossível de aplicar rótulos. Tudo o que ela cantava tinha um discurso político e social forte. Ela foi uma tecelã por mais de dez anos. Depois do sucesso, fez várias viagens à África para se aprimorar espiritualmente. É uma história linda”, resume Isaac Bernat, diretor do musical.
Agenda
O QUÊ. “Deixa Clarear”
ONDE. Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)
QUANDO. Hoje, às 20h
QUANTO. Entrada gratuita, mediante retirada dos ingressos na bilheteria uma hora antes do início do espetáculo

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