Blog Clara Nunes: fevereiro 2019

27 fevereiro 2019

Biografia e enredo !


Com nova capa (mais bonita do que a de edição de 2007) e novo projeto gráfico (que deixou o livro mais leve), mas com conteúdo idêntico, a biografia humaniza a figura de Clara ao longo das 480 páginas.

Capa da atual edição da biografia da cantora mineira Clara Nunes — Foto: DivulgaçãoCapa da atual edição da biografia da cantora mineira Clara Nunes — Foto: Divulgação
https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2019/02/27/enredo-da-portela-clara-nunes-e-desmistificada-em-biografia-que-permanece-fundamental.ghtml


22 fevereiro 2019

Voz de Ouro, Sabiá, Guerreira ! Portela 2019


Clara Nunes foi escolhida para o Enredo da Escola de Samba Portela no Carnaval 2019.


A cantora mineira, falecida em 1983, já havia sido citada em alguns sambas-enredo da Portela, mas dessa vez, depois de muitos pedidos dos admiradores e portelenses, terá sua história contada e cantada pela agremiação de Madureira.
Assim que a diretoria da Portela  à anunciou como enredo, a aprovação veio de imediato.
Nas redes sociais o nome da Guerreira, como Clara Nunes também era conhecida, foi festejado.

Uma junção de imagens capturadas pela estudante do Curso de Comunicação Em Mídia Digitais, a pernambucana Clara Borges, foi parar no perfil do Instagram e Facebook da GRES Portela.
Foto: junção de imagens por Clara Borges

http://acontecesantyago.blogspot.com/2018/05/clara-nunes-e-o-enredo-da-portela-em.html

Na Madureira Moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma Sabiá

Axé, sou eu
Mestiça, morena de Angola, sou eu
No palco, no meio da rua, sou eu
Mineira, faceira, sereia a cantar, deixa serenar
Que o mar de Oswaldo Cruz a Madureira
Mareia, a brasilidade do meu lugar
Nos versos de um cantador
O canto das raças a me chamar
De pé descalço no templo do samba estou
É rosa, é renda, pra Águia se enfeitar
Folia, furdunço, ijexá
Na festa de Ogum Beira-mar
É ponto firmado pros meus orixás

Eparrei Oyá, Eparrei
Sopra o vento, me faz sonhar
Deixa o povo se emocionar
Sua filha voltou, minha mãe

Pra ver a Portela tão querida
E ficar feliz da vida
Quando a Velha Guarda passar
A negritude aguerrida em procissão
Mais uma vez deixei levar meu coração
A Paulo, meu professor
Natal, nosso guardião
Candeia que ilumina o meu caminhar

Voltei à Avenida saudosista
Pro Azul e Branco modernista eternizar
Voltei, fiz um pedido à Padroeira
Nas Cinzas desta Quarta-feira, comemorar

Nossas estrelas no céu estão em festa
Lá vem Portela com as bênçãos de Oxalá
No canto de um Sabiá
Sambando até de manhã
Sou Clara Guerreira, a filha de Ogum com Iansã



03 fevereiro 2019

Jornal Estado de Minas - Saiba como a Portela homenageará Clara Nunes

Saiba como a Portela se prepara para homenagear Clara Nunes na Sapucaí

A escola deve levar para a avenida no carnaval deste ano 3.400 componentes divididos em 28 alas que contarão a história da vida e da obra da cantora mineira

Helvécio Carlos- Jornal Estado de Minas 

Clara Nunes está de volta à Portela e, desta vez, como grande estrela do sambódromo. Com o enredo Na Madureira moderníssima, hei de sempre ouvir cantar uma sabiá, a sambista mineira será reverenciada pela quarta vez na azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira, sua escola de coração. Na primeira homenagem, em 1984, foi exaltada no enredo Contos de areia, um ano após sua morte. Vinte e oito anos depois, a trajetória da cantora foi o fio condutor do enredo E o povo na rua cantando... É feito uma reza, um ritual. Há dois anos, a imagem de Clara fechou o desfile Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar?, que faturou o carnaval daquele ano.
A sambista desfilou na escola durante aproximadamente dez anos, gravou sambas-enredo e, em 1975, defendeu na avenida o samba-enredo Macunaíma, herói de nossa gente. Agora, Clara Nunes é tema de um  enredo inteiro.

A relação entre a azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira e a mineira de Caetanópolis começou nos anos 1970 e de uma forma inusitada, como lembra Vagner Fernandes, autor do livro Clara Nunes, guerreira da utopia. Foi por intermédio do namorado Aurino Araújo, fazendeiro de Joaíma, que Clara acabou sendo recebida com tapete vermelho na Portela. Aurino tornou-se amigo de Natal da Portela (Natalino José do Nascimento), naquela época patrono da agremiação, quando ele estava preso em Ilha Grande, assim como Carlos Imperial. Aurino costumava fazer visitas a Imperial, com quem dividia um apartamento no Rio de Janeiro, onde moravam também seu irmão Eduardo Araújo e Clara.

“Clara já havia visitado outras escolas, mas foi abraçada pela Portela”, diz o autor do livro, cuja segunda edição acaba de ser lançada, com direito a feijoada na quadra da escola. Para o escritor, apesar do tempo relativamente curto de convivência da sambista com a escola – “Foram apenas 13 anos, entre 1970 a 1983, muito pouco, se comparado a sambistas com 30, 40 anos de vida em uma escola” – a intensidade da relação foi muito grande.

“Até hoje o legado dela é compreendido de forma concreta pelas novas gerações. É um legado atemporal”, afirma. “Clara é, sobretudo, uma personagem muito importante para a cultura nacional. Ela nunca foi panfletária, mas sempre se posicionava, propondo discussões de identidade de gênero, contra o preconceito racial e de credo. Clara era altamente politizada”, emenda.

MEMÓRIAS
 Sobrinho da intérprete, Márcio Guima cita como boas memórias na Portela a amizade da cantora com Monarco e Candeia, compositor de O mar serenou, “um dos maiores sucessos de tia Clara”. Ele lembra ainda que a admiração entre os artistas era recíproca. Todos os anos, no dia 12 de agosto, aniversário da mineira, a Velha Guarda é convidada do Festival Cultural Clara Nunes, em Caetanópolis.

Márcio ainda não sabe em qual ala da Portela ele desfilará, mas acredita que outros sobrinhos e sobrinhos-netos da homenageada verão a Portela da arquibancada, no sambódromo carioca. Nenhum dos sete irmãos de Clara está vivo. Mariquita, a última que restava do clã, morreu em 2017.

Secretária municipal de Cultura de Caetanópolis, Marilene Araújo acredita que, com a homenagem, o país não terá mais dúvidas de que Clara é filha da cidade. “Muita gente ainda acredita que ela é de Paraopeba, município próximo.”

A Portela será a terceira escola a entrar na Sapucaí, na segunda-feira de carnaval. O enredo será apresentado em 28 alas, com cinco carros alegóricos, um tripé e aproximadamente 3.400 componentes. No barracão, o nome de quem representará Clara Nunes ainda é segredo, mas os pais dela, Manuel e Amélia, serão representados pelos atores Gloria Pires e Orlando Moraes. O custo do desfile está orçado em R$ 8 milhões.

Segundo Fábio Pavão, membro da direção de carnaval da escola e presidente do conselho deliberativo, a Portela busca cada vez menos a sobrevivência pela verba pública. “Tem sido assim nos últimos cinco anos,  com a ampliação na forma de captação de recursos, como eventos da quadra, projetos de branding para valorizar marcas. E, claro, estamos procurando nos adequar para enfrentar o momento atual do país”.

Entre as novidades deste ano, está o convite feito pela Portela ao estilista francês Jean Paul Gaultier para desenhar fantasias de ala no setor dos antigos carnavais. Ele passou alguns dias no Rio de Janeiro e foi acompanhado pela carnavalesca Rosa Magalhães.

ENSAIOS Rosa é um dos nomes mais importantes do carnaval carioca e volta ao sambódromo pelo segundo ano consecutivo no posto de carnavalesca da azul e branco de Oswaldo Cruz, zona Norte do Rio. Apesar da proximidade com o desfile, Rosa leva uma vida tranquila que ainda não exige sua mudança para o barracão. “Pela manhã, vou ao banco, por exemplo, e organizo coisas de casa. E planejo algumas coisinhas do desfile. À tarde, vou para o barracão”, diz ela, cuja grande emoção até agora “é ver a comunidade cantando o samba e se emocionando durante os ensaios”.

A história dos desfiles memoráveis do Grupo A passa por Rosa Magalhães, que começou a trajetória em 1971, com o enredo Festa para um rei (Pega no ganzê), no Salgueiro. “Estava na Faculdade de Belas Artes ainda. Acabei sendo chamada para fazer os figurinos no lugar de uma amiga, que teve que se afastar do processo, pois estava grávida. Lembro que comprei ingresso de arquibancada e fui ver o desfile pela primeira vez naquele ano. Agora, estou perto de completar 50 carnavais de atividade”, relembra ela.
Rosa coleciona oito títulos de campeã, entre eles o do Império Serrano em 1982, com o inesquecível Bumbum paticumbum prugurundum, e o mais recente, de 2013, com A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – Água no feijão que chegou mais um..., com a Vila Isabel.

Assim como a grande maioria dos técnicos de futebol, a carnavalesca também prefere não revelar sua escola do coração. “Sim, é melhor” (risos), responde ela, por e-mail.

NA PONTA DA LÍNGUA
Confira o samba-enredo em homenagem à cantora mineira


Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma sabiá
Autores do samba-enredo: Jorge do Batuke, Valtinho Botafogo, Rogério Lobo, Beto Aquino, Claudinho Oliveira, José Carlos, Zé Miranda, D’Souza e Araguaci

Axé... sou eu
Mestiça, morena de Angola, sou eu
No palco, no meio da rua, sou eu
Mineira, faceira, sereia a cantar, deixa serenar
Que o mar... de Oswaldo Cruz a Madureira
Mareia... a brasilidade do “Meu lugar”
Nos versos de um cantador
O canto das raças a me chamar
De pé descalço no templo do samba estou
É rosa, é renda, pra Águia se enfeitar
Folia, furdunço, ijexá
Na festa de Ogum Beira-mar
É ponto firmado pros meus orixás

Eparrei Oyá, Eparrei...
Sopra o vento, me faz sonhar
Deixa o povo se emocionar (refrão)
Sua filha voltou, minha mãe

Pra ver a Portela tão querida
E ficar feliz da vida
Quando a Velha Guarda passar
A negritude aguerrida em procissão
Mais uma vez deixei levar meu coração
A Paulo, meu professor
Natal, nosso guardião
Candeia que ilumina o meu caminhar
Voltei à avenida saudosista,
Pro azul e branco modernista... eternizar
Voltei, fiz um pedido à Padroeira
Nas cinzas desta quarta-feira... comemorar

Nossas estrelas no céu estão em festa
Lá vem Portela com as bênçãos de Oxalá
No canto de um sabiá (refrão)
Sambando até de manhã
Sou Clara Guerreira, a filha de Ogum com Iansã

Três perguntas para...
ROSA MAGALHÃES
carnavalesca


Como é desenvolver o enredo que presta homenagem a uma das figuras mais admiradas na Portela? 
É um enredo muito especial. A Clara deixou um grande legado para o samba, para a MPB e para a Portela. O portelense tem uma relação muito bonita com ela. O enredo foi baseado no livro do Vagner Fernandes (Clara Nunes, guerreira da utopia) e em outras fontes também. Qualquer pessoa gosta do trabalho dela. Minha música preferida dela é Guerreira.

Qual a contribuição de Jean Paul Gaultier ao desfile da Portela e à sua premiada carreira de carnavalesca? 
Para mim, é uma honra poder desenvolver um trabalho ao lado do Jean Paul. Desenhamos juntos a fantasia de uma das alas. Cada um deu suas contribuições, e eu tentei deixá-lo bem à vontade. Ele veio ao barracão, primeiro. No dia seguinte, participamos de uma feijoada. No terceiro dia, almoçamos juntos mais reservadamente e conversamos bastante. Sobre a obra dele, o que mais acho legal é o fato de ele produzir figurinos para grandes espetáculos de teatro e de música.

Desenvolver um enredo em tempos tão apertados, em que todo tipo de economia é uma exigência, estimula a criatividade ou faz a tensão se tornar maior? 
Está sendo um ano muito difícil para todas as escolas, mas elas vão se superar. Cada uma vai fazer o que sabe de melhor.
03/02/2019

01 fevereiro 2019

A história do amor eterno entre Clara Nunes e a Portela

A história do amor eterno entre Clara Nunes e a Portela

No último dia 2 de abril , completaram-se 35 anos da morte estúpida e precoce de Clara Nunes. Tempo suficiente para muita gente que gosta do samba perder a noção da força e da importância desta mulher para a cultura popular, a música brasileira e também para a Portela, que acaba de completar 95 anos de fundação.
Documentário do Canal Brasil sobre Clara Nunes 
Clara Nunes foi uma das principais cantoras brasileiras, dona de uma voz potente e cheia de recursos. Foi a primeira mulher a vender mais de 100 mil discos. Nascida em Minas, chegou ao Rio de Janeiro nos anos 1960, depois de fazer sucesso no rádio em Belo Horizonte. No Rio, foi substituindo aos poucos os boleros que marcaram seus primeiros trabalhos pelo samba e outros ritmos afro-brasileiros. E apesar do repertório popular, cantou e fez parcerias musicais com alguns dos principais nomes da música brasileira no seu tempo, como Vinícius de Morais, Tom, Baden Pawell, entre outros. Converteu-se à umbanda, fato que teve grande influência em seu repertório, fazendo inclusive uma espécie de profissão de fé na música de abertura do álbum Guerreira, de 1978. 
O clipe de Guerreira:
Ao ampliar o espaço para o samba em seu repertório, Clara passou a frequentar escolas de samba. O seu terreiro era em Madureira, o que facilitou a aproximação com a Portela. A relação ficou tão profunda que a principal cantora da música brasileira nos anos 1970 lançava discos primeiro na quadra da escola.
Em seus trabalhos gravou diversos sambas-enredo, de várias escolas, inclusive da Portela como, Ilu Ayê, de 1972. No carnaval de 1975, Clara Nunes foi intérprete oficial da escola na avenida, com o enredo Macunaíma. Seu repertório ainda inclui músicas compostas com estrutura de samba-enredo, caso de O Canto das 3 Raças Brasil Mestiço, sem contar aquele que é o mais famoso deles: Portela na Avenida, uma ode à escola, lançada por Clara Nunes em 1981 e que se transformou em hino para a Águia, sendo cantada na concentração da Portela como esquenta.
Sua interpretação de Macunaíma: 
Clara Nunes foi intérprete, mas gostava mesmo era de desfilar no chão, o que fez até o carnaval de 1983. Eu me lembro de vê-la passar pela Sapucaí, inclusive no desfile das Campeãs, já dia claro, saudando as pessoas. Dias depois, internou-se num hospital para um cirurgia para correção de varizes. A versão oficial dá conta de que sofreu um choque anafilático, causado por reação à anestesia. Ficou em coma durante quase um mês e morreu em um Sábado de Aleluia, no dia 2 de abril, pouco mais de um ano depois de Elis Regina.
 O velório de Clara foi no Portelão, por onde passaram mais de 50 mil pessoas. Madureira parou e chorou na saída do cortejo para o cemitério São João Batista, onde foi enterrada. A voz do Sabiá, como era carinhosamente conhecida, se calou, mas sua memória paira como uma grande baluarte portelense.
 Desfile de 1984: 
Costumava ela dizer que “se tem um lugar que eu sei que nunca serei esquecida, é na Portela”.  Pura verdade. No ano seguinte, Clara Nunes fazia parte do enredo Contos de Areia (nome de um de seus sucessos) junto com portelenses ilustres como o fundador  Paulo da Portela, o grande compositor Candeia e Natal, que  presidiu a azul e branco por grande parte de sua trajetória vitoriosa.
 Desde sua morte, para compositores portelenses o verbo “clarear” não significa apenas o alvorecer. É sobretudo lembrar desse ser de luz, mesmo quando não é citada na sinopse do enredo. “Como se fosse magia, nosso poeta alcançou, no afã da poesia, foi aí que clareou…” (Portela 1987).
 Mais recentemente, no início do renascimento da escola, trazido pelo grupo Portela Verdade, Clara voltou a fazer parte de enredos. Em 2012, fez parte da homenagem à Bahia e aos rituais africanos com um samba antológico.
 No desfile de 2012, Clara foi representada por Vanessa da Matta e veio no último carro (Pra ver, a caracterização, vá até 59 minutos): 
Finalmente, em 2017 o enredo Quem Nunca Sentiu Seu Corpo Arrepiar ao Ver Este Rio Passar, idealizado por Paulo Barros, falou sobre a água doce e aproveitou para relembrar a metáfora do desfile da escola de samba como o fluir de um rio. Ela era uma das homenageadas do cortejo de baluartes que navegou entre as alas da escola.  Sob as bênçãos dela, a Portela voltaria a ser campeã, depois de 33 anos. O último título havia sido justamente o de 1984.
 O desfile campeão de 2017:
A Portela sonha um dia poder levar para a avenida um enredo inteiro sobre Clara Nunes, um nome que levava a Águia Altaneira por onde fosse, tendo feito shows em lugares tão distintos de Madureira quanto Suécia e Japão, onde ainda hoje tem fãs. Homenagear Clara é fazer uma ode à Portela, que acaba de completar 95 anos, no dia 11.
 Depois da morte de Clara Nunes, João Nogueira compôs a música em sua homenagem, Um Ser De Luz, interpretada por Alcione.

Transcrito do blog:
https://mestrecarnaval.camarotecarnaval.com/a-historia-do-amor-eterna-entre-clara-nunes-e-a-portela/