Por Mauro Ferreira, G1
Construída inteiramente na gravadora Odeon entre 1966 e 1982, a obra fonográfica da cantora mineira permanece como uma das discografias mais luminosas da música brasileira, em especial do samba, ritmo dominante no repertório mestiço da artista.
Dos 16 álbuns de Clara lançados antes de a cantora comover o Brasil ao sair de cena aos 41 anos incompletos, vítima de complicações decorrentes do que deveria ter sido uma simples operação de varizes, Guerreira (1978) é o que mais bem reforçou a identidade afro-brasileira da cantora quando a carreira de Clara já estava consolidada.
Inclusive por trazer o samba-título Guerreira (1978), no qual Clara se reapresentou para o público com versos alusivos a outro samba-tributo, Mineira (1975), sucesso na voz de João Nogueira (1941 – 2000), parceiro de Paulo César Pinheiro na composição dos dois sambas.
Não por acaso, um dos epítetos de Clara foi justamente Guerreira, nome do álbum de 1978 e do samba lançado neste disco cujo repertório também destacou os sambas Mente (Eduardo Gudin e Paulo Vanzolini, 1978) e Candongueiro (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1978).
Também não por acaso, Guerreira foi o álbum da cantora escolhido pela professora carioca de literatura Giovanna Dealtry para ser analisado no mais novo título da série O livro do disco, da editora Cobogó.
Capa do livro 'Clara Nunes – Guerreira' — Foto: Divulgação / Editora Cobogó
Disponível no mercado neste mês de novembro de 2018, 40 anos após o lançamento do álbum que repõe em foco, o livro Clara Nunes – Guerreira tem narrativa sucinta que vai soar até rasa para quem conhece bem a história e a discografia da cantora.
Erro primário na página 32 – o de associar o samba Tristeza pé no chão(Armando Fernandes), gravado e lançado por Clara em 1973, ao consagrador repertório do já mencionado álbum Alvorecer, de 1974 – sinaliza o pouco conhecimento que a autora provavelmente tem da obra de Clara.
Mas esse erro jamais tira o mérito de Dealtry de ter criado narrativa em que analisa o álbum Guerreira a partir da construção da identidade afro-brasileira adotada por Clara a partir de 1971.
Foi nesse ano de 1971 que a cantora aderiu definitivamente ao samba, mas sem jamais se restringir somente a ele, com imagem e som idealizados pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves, arquiteto inclusive do visual que seria adotado pela cantora a partir de então.
Para quem conhece Clara Nunes, essa opção narrativa soa até óbvia, mas faz sentido no desenvolvimento do texto desta pequena tese em que a autora entra especificamente na análise do disco a partir da página 50, bem na metade do livro.
As primeiras 50 páginas são ocupadas com perfil biográfico da cantora, escrito com base em informações extraídas de outros livros e de reportagens em jornais e revistas.
Clara Nunes tem álbum de 1978 dissecado em título da série 'O livro do disco' — Foto: Divulgação / Wilton Montenegro
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