"Clara Estrela"

Diretora celebra filme sobre Clara Nunes: "Nosso caldeirão mestiço"

Longa conta a trajetória da cantora, que morreu aos 40 anos, em 1983

Toda vestida de branco, Clara Nunes chamava a atenção com seu visual afro
Toda vestida de branco, Clara Nunes chamava a atenção com seu visual afroDivulgação/Iolanda Husak
Clara Nunes foi uma das cantoras mais importantes do Brasil. Apesar de ter morrido precocemente aos 40 anos, em 1983, a voz multicultural de Clara segue inovadora.
Mesmo assim, não existia até então um documentário sobre a intérprete. Pensando nisso, Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir fizeram Clara Estrela, em parceria com o canal de TV independente Curta!

"Clara cantou as alegrias e tristezas do povo que tanto a amava"
Susanna Lira
Clara Nunes virou filme
Clara Nunes virou filmeDivulgação



O filme é editado sob a perspectiva da própria cantora mineira, através de entrevistas de época. Já as reportagens impressas são narradas pela atriz Dira Paes.
A família de Clara, bem como o compositor e viúvo, Paulo César Pinheiro, aderiram à idéia do projeto e disponibilizaram seus acervos.
Em imagens emocionantes, o documentário relembra como a cantora foi importante para o empoderamento feminino, a intolerância religiosa e outros temas que estão em evidência hoje em dia.
Susana se comoveu enquanto fazia a pesquisa.
— O que mais nos chamou a atenção é a atualidade da obra. As questões que ela defendia e acreditava estão todas até hoje sendo discutidas pela sociedade. É impressionante como, depois de mais de 30 anos da morte dela, Clara continua tão presente.
Divina representante da nação mestiça do Brasil, Clara traduziu o País através da música sem fronteiras. A diva da MPB misturava tudo em um mesmo caldeirão sonoro: samba, forró, cantigas de louvor e o que mais viesse. Dessa forma, surgiram sucessos como Conto de AreiaCanto das Três RaçasFeira de Mangaio e Morena de Angola.
Clara Nunes quebrou tabus
Clara Nunes quebrou tabusDivulgação
Além disso, a figura mística da cantora chamou a atenção. Depois de sua primeira excursão pelo continente africano, a estrela encontrou suas raízes e se cercou de sambistas como Cartola e Candeia.

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A diretora do filme elogia a força da guerreira.
— A artista assumiu um posicionamento de fé muito raro naquela época e quebrou muitos padrões. Clara lutou muito para ser a primeira mulher a ter recorde de vendagens de discos no Brasil. Ela foi doçura e força na mesma pessoa.
Clara Estrela estreia no Festival Mimo de Cinema, nesta sexta-feira (6), em Paraty (RJ). Após passar em festivais, o longa será exibido com exclusividade no Curta! no primeiro semestre de 2018. A diretora ainda informa que está tentando negociar para que o documentário seja exibido em salas de cinema pelo País.
Para saber mais sobre a obra, o R7 conversou com Susanna Lira.
R7 — Qual é a importância de Clara Nunes para o Brasil?
Susanna Lira — 
Ela representa o caldeirão mestiço brasileiro e cantou as alegrias e tristezas desse povo que tanto a amava. Também assumiu um posicionamento de fé muito raro naquela época e quebrou muitos padrões. Ela é doçura e força na mesma pessoa. Foi uma menina do interior de Minas que saiu de lá e lutou muito para ser a primeira mulher a ter recorde de vendagens de discos no Brasil. Clara está, até hoje, eternizada em nossa memória.
"Clara Nunes quebrou muitos padrões"
Susanna Lira
R7 — Quanto tempo vocês levaram para fazer o documentário?
Susanna Lira —
 A jornada para a realização do filme tem quase 20 anos. Foram pesquisas e muita luta envolvida para que chegássemos até aqui. Mas acho que veio na hora certa!
R7 — A cantora conta sua própria trajetória através de entrevistas. Como surgiu a ideia?
Susanna Lira — 
Tínhamos entrevistas de outras pessoas gravadas, mas achamos que o material de arquivo era tão rico, então decidimos deixar a Clara falar por si.
Clara Nunes sintetiza o caldeirão cultural brasileiro
Clara Nunes sintetiza o caldeirão cultural brasileiroDivulgação/Wilton Montenegro
R7 — E a Dira Paes narra as reportagens impressas...
Susanna Lira — 
Editamos muitos depoimentos da Clara para TV e rádio, mas era necessário ter uma narradora para as entrevistas imprensas. Então, escolhemos a Dira, que é uma atriz que também representa o povo brasileiro.
R7 — Qual foi o fato que mais chamou a atenção nas pesquisas?
Susanna Lira — 
A atualidade da obra dela. As questões que a Clara defendia e acreditava estão todas até hoje sendo discutidas pela sociedade. É impressionante como, mais de 30 anos depois de sua morte, ela continua tão presente.
R7 — Ela faceleu de uma forma muito trágica, por insuficiência cardíaca. Como vocês mostraram isso?
Susanna Lira —
 A morte dela é representada de forma muito poética...
R7 — Você conversou com familiares e amigos da cantora? E já mostrou o filme para alguém?
Susanna Lira —
 A única pessoa da família de Clara que viu o filme foi o viúvo dela, o compositor Paulo César Pinheiro. Ele elogiou bastante, então isso foi muito importante para nós.
R7 — Esse é o primeiro documentário sobre Clara, sendo que já se passaram mais de 30 anos da morte dela. O Brasil tem memória curta?
Susanna Lira — 
No Brasil, raramente conseguimos fazer justiça com um artista. Estamos começando a realizar esses filmes, então espero que a gente consiga construir uma cinebiografia que faça jus a memória desses grandes nomes.