Todas as pessoas têm uma missão,
a minha é cantar, dizia Clara Nunes
Zelosa da carreira, tinha que se apaixonar pela música antes de gravá-la.
Cantora foi a primeira mulher a vender 100 mil cópias de um disco.
Também chamada de guerreira, era a presença do candomblé e da umbanda na música popular brasileira. “Todas as pessoas têm uma missão. Eu tenho a missão de cantar”, disse em entrevista a Leda Nagle, no Jornal Hoje, em 1982.
A cantora nasceu na pequena cidade de Paraopeba, em Minas Gerais. Do pai, um violeiro muito conceituado na região, ela herdou o amor pela música e o nome. Para batizar os filhos, ele olhava no calendário quem era o santo do dia. Em 12 de agosto, dia de Santa Clara, nasceu Clara Nunes.
Como os pais morrerem muito cedo, a cantora começou a trabalhar aos 14 anos, como operária em uma fábrica de tecidos. “Acho fundamental a mulher ter uma profissão. Aprendi desde cedo a ser independente financeiramente e a lutar para conseguir as coisas. Digo que continuo operária. Hoje eu sou operária da música popular brasileira”, afirmou Clara no TV Mulher, em 1981.
Aos 16 anos, mudou-se para Belo Horizonte, onde venceu diversos concursos de calouros e começou a tocar em rádios, televisões e boates. Aos 23, tentou a sorte no Rio, onde gravou o primeiro disco. Ela acreditava que só acertou mesmo a partir de 1968, quando gravou ‘Você passa e eu acho graça’, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial. “Ali me senti mais tranquila. Queria encontrar um caminho que não fosse parecido com nenhum artista e vi que tinha uma brecha, que era me voltar para o folclore”, contou ao TV Mulher, em 1982.
O auge do sucesso começou em 1974, com ‘Conto de areia’. Dali em diante, os discos de Clara Nunes saiam com, no mínimo, 200 mil exemplares vendidos. “Clarinha tomava muito cuidado com seu repertório e, para isso, ela tinha que se apaixonar pela música que iria gravar”, lembrou a amiga Bibi Ferreira no especial dedicado à cantora gravado em 1983.
Para o músico Sivuca, ela não era apenas uma grande sambista, mas uma intérprete que se saía bem em diversos gêneros. “Era romântica quando tinha que ser romântica e folclórica quando encarava uma música nordestina. Dispunha de um material vocal maravilhoso, era uma cantora de possibilidades ilimitadas”, disse.
A cantora mineira teve duas grandes paixões: a Portela, tradicional escola de samba do Rio, e o produtor musical Paulo César Pinheiro, com quem se casou. “O Paulinho foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Ele é simplesmente extraordinário, um grande amigo, um homem maravilhoso”, derreteu-se em entrevista ao Jornal Hoje, em 1979.
Em suas apresentações, vestia-se toda de branco e, antes de entrar no palco, batia no chão três vezes, rezava e pedia proteção aos orixás. “Eu sou muito mística, tenho uma fé muito grande e acredito nos orixás. É uma coisa que está dentro do meu coração, dentro da minha alma. É muito sincero da minha parte”, disse ao Jornal Hoje também em 1979. A fé cantada nas letras fez dela um símbolo do sincretismo religioso no país.
Clara recusava os rótulos e gostava de dizer que era uma cantora popular brasileira. “Uma coisa que sempre lutei na minha vida foi justamente ser uma cantora popular, que cantasse as coisas do meu povo, principalmente as boas. Só canto aquilo que é verdade. Eu sou uma cantora autêntica brasileira”, afirmou em 1976.
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