Foi uma festa emocionante. Com uma das torcidas mais apaixonadas do carnaval carioca, a azul-e-branco de Oswaldo Cruz e Madureira abriu as portas de sua quadra, na tarde deste sábado, para exibir o orgulho e a paixão de ser a Majestade do Samba. Uma enorme multidão adentrou às novas dependências da escola, e todos ficaram surpresos com o que viram.
A fachada principal da escola, onde ficam as roletas de acesso (agora eletrônicas), praticamente triplicou sua altura. O imponente forte portelense, em azul celeste no escuro das cores de sua bandeira, ergue-se num paredão onde as letras com o nome da escola impõe-se para identificá-la. Ao entrar, a lateral direita da quadra é um misto de Rio Antigo, com sacadas e janelas históricas, e pontos de encontro que evocam bambas eternos em títulos como "Bar da Tia Vicentina" e "Praça Manaceia".
Nas duas fachadas internas da parte coberta da quadra, destacam-se frases imponentes. "Portela é perfume da flor / É aroma no ar / Para sentir só basta saber respirar" (dos versos célebres de Candeia no clássico "Vem Pra Portela") e "Aqui deu frutos a semente que a Velha Guarda plantou", espécie de frase-ode aos baluartes mestres do panteão portelense.
A tarde teve apresentações musicais que remeteram à mais nobre tradição portelense. A badalada feijoada foi servida a personalidades como a rainha de bateria Sheron Menezes, o prefeito do Rio Eduardo Paes, o vice-governador do Rio, Pezão, o secretário de transportes Júlio Lopes e o jogador Petkovic. Além deles, uma comitiva baiana com integrantes do Olodum e do Ilê Ayê também estiveram presentes.
Um cardápio musical regado a sambas clássicos e canções de Clara Nunes foi o couvert de uma grande tarde de samba. Marquinhos de Oswaldo Cruz, homenageado como idealizador dos dois projetos - a Feijoada da Família Portelense e o Trem do Samba - abriu o show e foi, ao final, laureado por Monarco com uma placa. Dorina subiu ao palco cantando Velha Guarda e Clara Nunes. Noca e Wilson Moreira relembraram vários de seus sucessos. Eliane Faria mostrou sua vocação nobre de herdeira do talento do pai, Paulinho da Viola. Mauro Diniz, filho de Monarco, e Diogo Nogueira também reiteraram o DNA portelense de seus pais. Teresa Cristina, uma das mais aplaudidas do evento, levantou a plateia com sua performance de "O Mar Serenou", mais uma vez lembrando Clara Nunes.
Na parte descoberta da quadra, a bateria "Tabajara do Samba", regida por mestre Nilo Sérgio, contagiava a todos enquanto a voz de Gilsinho empolgava a audiência com o hino para o carnaval de 2012.
Mas foi o virtuoso baluarte Monarco, celebrando os 40 anos da Velha Guarda formosa e faceira da Portela, quem incendiou a audiência. Emendando inúmeros sambas de terreiro - clássicos do repertório de seus amigos bambas - abriu o set com o Hino da Portela, de Chico Santana, e deu-se a disparar jóias como "Cocorocó", "Lenço", "Tudo Menos Amor", "Cidade Mulher", "Corri Pra Ver", "Chegou Quem Faltava", "Coração em Desalinho", "Vai Vadiar", "Lapa em Três Tempos" e outras de mesmo quilate.
Extasiada, a multidão aplaudiu, cantou, dançou e em dados momentos não conteve as lágrimas, sobretudo nas vezes em que músicas como "Contos de Areia" (samba-enredo da escola em 1984, a música mais cantada no evento), "Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida" (de Paulinho da Viola) e "Portela na Avenida" (célebre na voz de Clara Nunes) foram cantadas pelos convidados. Integrantes da torcida Guerreiros da Águia garantiram a animação e o colorido azul e branco com faixas e bandeiras, além de emprestarem seu inesgotável fôlego para vibrar com os sambas da escola.
O prefeito Eduardo Paes saudou os portelenses, declarou seu amor à escola, fez uma brincadeira com Tia Surica ("Eu costumo dizer que Cris é minha esposa, mas a Surica é minha amante!") e pareceu ter mandado um recado para o presidente Nilo Figueiredo:
"Presidente Nilo, a quadra está renovada, a comunidade está radiante com o samba-enredo mais bonito do ano. A Portela tem que fazer um desfile brilhante, tudo precisa estar à altura do que estamos vendo", afirmou, em diplomático mas reiterado tom de exigência.
A nova quadra da Portela mostrou que o orgulho portelense está em alta. Um orgulho que, não obstante o renovo, tem respeito fundamental por sua raiz de bambas.
Salve Oswaldo Cruz e Madureira!
Salve,Guerreira!Salve ela!
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