“Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar
Sua voz então a se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava espantava a dor
Com a força do seu cantar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava espantava a dor
Com a força do seu cantar
Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela se foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
E a gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de vê-la, sabiá
Foi que o menino Deus chamou
E ela se foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
E a gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de vê-la, sabiá
Sabiá
Que falta faz sua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia
Canta meu sabiá,
Voa meu sabiá,
Adeus meu sabiá…
Até um dia…”
Que falta faz sua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia
Canta meu sabiá,
Voa meu sabiá,
Adeus meu sabiá…
Até um dia…”
“Um Ser de Luz” (Sabiá), composta em homenagem à esposa Clara Nunes em parceria com João Nogueira e Mauro Duarte é a grande homenagem após sua partida em 02/04/1983. Paulo César Pinheiro conta que achou um absurdo quando os parceiros vieram a ele com a idéia de um “samba de adeus” para Clara Nunes. Já tinham prontas, inclusive, esboços de letra e o início da melodia. Entretanto, João Nogueira o convenceu com um argumento muito hábil: que se ele (Paulo) fizesse o samba, ninguém mais se atreveria a escrever outro. Além disso, se ele não fizesse iriam aparecer canções oportunistas e de baixa qualidade.
Foi exatamente o que ocorreu. Depois da parceria, jamais outro compositor se atreveu a escrever um samba em homenagem à Clara Nunes. “Um Ser de Luz” – que tem este título como referência a uma crônica de Artur da Távola escrita durante o período de agonia da cantora no hospital – se tornou a definitiva canção de adeus, como previra João Nogueira.
A música foi o “esquenta” da Portela para o carnaval seguinte !
Clara Nunes: de Minas para o mundo!
Considerada uma das maiores intérpretes do país, Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, nasceu em 12 de agosto de 1942, na cidade de Cedro, hoje Caetanópolis.
Ela perdeu o pai aos dois anos e a mãe aos seis. Aos 14, ingressou na fábrica de tecidos Cedro&Cachoeira, onde seu pai fora empregado. Mudou-se para Belo Horizonte para trabalhar como artesã, participava do Coral Renascença, quando conheceu o violonista Jadir Ambrósio – autor do hino do Cruzeiro – que, admirado com a sua voz, levou-a a vários programas de rádio.
Clara venceu a etapa mineira do concurso “A Voz de Ouro ABC” (promovido pela fábrica de rádios e televisões ABC – American Broadcasting Company) com a música Serenata do Adeus, composta por Vinicius de Moraes e gravada anteriormente pela sua principal influenciadora, Elizeth Cardoso.
A partir daí, foi trabalhar na Rádio Inconfidência e durante três anos seguidos foi considerada a melhor cantora de Minas Gerais; paralelamente era crooner de clubes e boates na capital mineira, onde foi companheira de Milton Nascimento – na época conhecido como o baixista Bituca.
Em 1963, ganhou um programa exclusivo na TV Itacolomi, que trazia artistas de renome nacional. Tempos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro apresentando-se em vários programas de TV. Foi contratada pela Odeon que lançou o LP A Voz Adorável de Clara Nunes, mas não obteve sucesso comercial – a gravadora a obrigou a cantar só boleros. Em 1968, fez um álbum onde estrearia no samba com Você Passa e Eu Acho Graça (de Ataulfo Alves e Carlos Imperial), que a levaria a ficar conhecida nacionalmente.
Depois veio A Beleza que Canta (1969), e Clara fez uma viagem a Angola, onde estudou folclore, música e danças que influenciaram a nossa cultura. Ela acreditava que sua força estava nas raízes populares e seu foco se direcionou para esse objetivo. Na sequência saíram os LPs Clara Nunes (1971), Clara Clarice Clara (1972) e Clara Nunes (1973). Nessa fase, suas canções eram calcadas em temas da umbanda e do candomblé e ela adotou sua indumentária característica, sempre de branco e com colares e missangas.
Estreou com Vinicius de Moraes e Toquinho o show O Poeta, a Moça e o Violão no Teatro Castro Alves, em Salvador. Foi convidada pela Radiotelevisão Portuguesa para fazer uma temporada em Lisboa. Percorreu outros países da Europa, quando gravou um especial com a Orquestra Sinfônica de Estocolmo, na Suécia.
Em 1974, a Odeon lançou o LP Alvorecer que emplacou os sucessos o Conto de Areia e Meu Sapato Já Furou. O disco bateu recorde de vendas, com 400 mil cópias; isso rompeu com o tabu de que mulher não vendia discos e estimulou outras gravadoras a investir em sambistas femininas como Alcione e Beth Carvalho. Ela ainda atuou ao lado de Paulo Gracindo, em Brasileiro Profissão Esperança (de Paulo Pontes), uma encenação sobre a vida da cantora e compositora Dolores Duran e do compositor e jornalista Antônio Maria e o show gerou um disco homônimo.
Clara casou-se com o poeta, compositor e produtor Paulo César Pinheiro, de quem gravou várias canções. Fez Claridade, que traz os sucessos O Mar Serenou e Juízo Final – álbum considerado um dos mais importantes de sua carreira. Em 1976, gravou Canto das Três Raças, além da faixa-título o disco conta com Lama e Retrato Falado. No ano seguinte, ela produziu o álbum As Forças da Natureza. Em 1977, inaugurou no Rio de Janeiro o Teatro Clara Nunes, de sua propriedade, fato até então inédito para uma cantora brasileira.
Em 1978, foram lançados Guerreira, no qual Clara interpretou vários ritmos brasileiros; e Esperança, com destaque para a faixa Feira de Mangaio. Participou, ao lado de Chico Buarque, Maria Bethânia e outros artistas do show do Riocentro, que marcaria a história política brasileira devido a um ato terrorista praticado por militares radicais, com a explosão de uma bomba que deixaria como vítimas os próprios autores.
Clara se submeteu a uma histerectomia, após sofrer três abortos espontâneos, por causa dos miomas que possuía no útero. A impossibilidade de ser mãe causou-lhe muito sofrimento, compensado apenas pela entrega absoluta à carreira artística.
Ela tem em seu acervo mais de dezoito discos de ouro. Seu LP mais vendido foi Brasil Mestiço de 1980, que ultrapassou a marca de um milhão de cópias e foi premiada com o celebrado Troféu Roquette Pinto. Em 1981, saiu o LP Clara, com destaque para a música Portela na Avenida; e também estreou o show Clara Mestiça (dirigido por Bibi Ferreira). No ano seguinte, veio Nação, seu último álbum de estúdio.
Em março de 1983, Clara Nunes se submeteu a uma cirurgia de varizes, mas acabou tendo uma reação alérgica. Em dois de abril do mesmo ano, o Brasil perdeu uma de suas maiores cantoras, vitimada por um choque anafilático.
Com o enredo Contos de Areia, a Portela faz uma homenagem a Clara, em 1984, sendo campeã, juntamente com a Estação Primeira de Mangueira. Sua obra foi editada em CD em 1997 e reeditada em 2004.
Em 2007, foi publicada a biografia Clara Nunes – Guerreira da Utopia (Ediouro), escrita pelo jornalista Vagner Fernandes, e no final de 2017 foi lançado o documentário Clara Estrela, dirigido por Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir, que conta a história da artista através de seus próprios depoimentos.
https://prefacio.com.br/vinil/clara-nunes-de-minas-para-o-mundo
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