ilustração Kelvin Koubik "Kino"*
O blog recebeu este belo depoimento :
Foi como um ritual
que adquiri um álbum duplo recentemente e coloquei no aparelho de CD para
ouvir...
E só podia ser mesmo
com muita consideração, magia e respeito.
Mas com muita
alegria também...
Um CD com os grandes
momentos de Clara Nunes.
Era menino ainda
quando a sabiá se foi e lembro-me que o Brasil parou, paralisou
mesmo.
Clara era a luz que
irradiava nas noites de domingo no Programa Fantástico com o samba tradicional
escrito por gente do quilate de Ataulfo Alves, Paulo César Pinheiro, Mauro Diniz
e Paulinho da Viola.
Seu sorriso aparecia
na tela quase sempre com os pés descalços, vestidos brancos ou coloridos e a
magia dos ritos afro-brasileiros.
Sua beleza, sua
alegria pela vida e o prazer em cantar os sambas de chão, de terreiro e os
sambas-canção se juntavam à beleza dos santos e orixás.
O samba de Clara
Nunes é o samba do violão de 7 cordas fazendo a diferença, dos atabaques e da
cuíca, samba que não se furta em falar das nossas raízes e de uma promessa de
futuro melhor.
A maravilhosa
cantora e a encantadora mulher preenchiam a tela da televisão e sua voz ecoando
30 anos depois de sua morte com uma alegria e beleza indescritíveis enchem o
peito da gente de saudade.
Trinta anos depois,
comprovamos que Clara Nunes é de um tempo em que o samba era a alma do povo
sofrido, resistente e lutador que não se abatia e nem se deixava dominar por
modismos culturais.
A obra que Clara
deixou é mesmo um enorme e inspirador samba-enredo que faz do Brasil um
sambódromo que nos arrasta, nós povo, das montanhas de Minas ao frio do Sul, dos
morros cariocas ao sossego paradisíaco das praias da Bahia...
Mais do que há
trinta anos atrás quando não sabíamos o que o destino iria aprontar com a música
brasileira, mais do que naquele já longínquo 1983, hoje precisamos muito mais
ainda da música e da beleza solar de Clara Nunes!
Aldo
Moraes
Músico e
Escritor
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