OS 60 ANOS DE CLARA NUNES
(Crônica de Artur da Távola publicada em 2003, ano que Clara faria 60 anos)
O dia foi ontem, 12 de agosto, mas só hoje posso escrever para lembrar o aniversário de Clara Nunes, essa brasileira bonita e boa pessoa como poucas encontrei nesse mundo, além, é claro, da grande cantora ainda lembrada volta e meia pelas rádios embora aquém do merecido.Clara estaria a fazer 60 anos. E por certo a cantar melhor que nunca, sempre bonita, não se teria deixado engordar e imperaria num patamar igual ao de Elizete Cardoso. Este ano fez também vinte anos de sua partida para o reino dos esplendores exatamente no dia dois de abril, após uma agonia de semanas por erros de entubação numa cirurgia relativamente simples de varizes, comovendo o País.A década de Clara foi a de setenta. Depois de um começo difícil e uma infância pobre em Paraopeba onde nasceu (foi operária tecelã), abre caminho sempre honradamente e num período em que o samba brasileiro estava em queda de vendas e de presença nas rádios ela fura o bloqueio e com sua voz de cristal., seu ritmo, seu sorriso lindíssimo, sem polêmicas, sem escândalos, sem jogadas de marketing, sem falar mal dos outros, Clara surge, radiosa, em Conto de Areia, Meu Sapato Já Furou, Tristeza Pé No Chão, É Baiana, Ylu Ayê, isso desde o seu sucesso inicial Você Passa Eu Acho Graça, a inusitada parceria de Ataulfo Alves com Carlos Imperial. E do que viria depois: Coração leviano, Feira de Mangaio (obra prima de Sivuca) e o inesquecível Morena de Angola que o Chico Buarque escreveu para ela ao voltarem, ambos, de uma viagem à África, de solidariedade ao povo daquele continente.
Quanta música brasileira e linda ela cantou!Clara, juntamente com Roberto Ribeiro, também falecido de modo prematuro pertenceu a uma geração que manteve o samba de raiz e a brasilidade de nossa música popular em época de começos de uma descaracterização e uma mediocridade que hoje chegam ao auge. Foi um ser humano de alto valor moral e pessoal. E tinha uma característica notável e nem sempre freqüente no ser humano. Era de bom coração: sabia ser grata, generosa, companheira, amiga. Sempre participou de movimentos libertários, e augurou um país democrático e livre. Salve os 60 anos de Clara Nunes pessoa a quem aprendi a admirar forte e profundamente em sua condição de amiga e de estrela, a meu ver imortal, da música popular brasileira.
Blog Clara Voz de Ouro
Nenhum comentário:
Postar um comentário