“A Portela fará um desfile lindo, Clara vai reviver na avenida, porque nunca nos esquecemos dela”, afirma Monarco. A fala do veterano portelense vai ao encontro de depoimento da própria homenageada, reproduzido no documentário “Clara Estrela” (2017), de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir. “O único lugar que sei que serei sempre lembrada é na Portela”, declara a mineira de Caetanópolis nas imagens do filme.
Guerreira. Outra novidade é o fato de um grupo formado exclusivamente por mulheres disputar a escolha do melhor samba-enredo. O Samba das Guerreiras conta com dez integrantes, entre elas Meri de Liz, Ana Quintas e Catia Guimarães, que pertencem à ala de compositoras da escola.
Há cinco anos abrindo a tradicional feijoada da Portela com um tributo à cantora, Ana exalta um recorde de Clara: graças ao disco de 1971, ela se tornou a primeira mulher no país a ultrapassar as 100 mil cópias vendidas, vencendo os tabus e os preconceitos da época.
“A Clara foi uma guerreira, e, para nós, é mais do que justo participar de um ano que vai relembrar uma mulher tão forte”, garante Ana, que aproveita o passado para se referir ao hoje. “‘Sororidade’ é a palavra do momento, uma mulher puxando a outra e elevando nossa capacidade”, completa a compositora. Nessa linha, outra integrante do conjunto preparou uma iniciativa cinematográfica. No dia 13 de setembro, Rozzi Brasil lança, na quadra da Portela, o curta-metragem “Procuram-se Mulheres”, sobre a invisibilidade feminina na sociedade brasileira.
Por sinal, foi por meio das filmagens que a história do Samba das Guerreiras começou. “Reuni pessoas que admirava no set de filmagem e, para a parte musical, chamei a Meri de Liz, que toca violão, e a Dayse do Banjo”, conta Rozzi. Unidas, as instrumentistas fundaram o conjunto, que pretende vencer a competição para emplacar a música na avenida.
O mote é “Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma sabiá”, alusão a versos da música “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim, mas, também, a “Um Ser de Luz”, parceria de João Nogueira com o viúvo de Clara lançada por Alcione em 1983, um ano após a morte da intérprete.
Encontro. Recém-chegada ao Rio, o encantamento de Clara com a Portela foi “espontâneo e apaixonado”, nas palavras de Monarco. Embora tenha registrado músicas de mangueirenses célebres como Cartola e Nelson Cavaquinho, a paixão pela escola de Candeia e outros bambas foi inevitável. “Clara chegou a sair no carro da escola, puxando samba, mas gostava mesmo era de brincar o Carnaval no chão”, garante ele, que conheceu Clara, primeiro, pelas ondas do rádio.
“Eu a ouvi cantando ‘Você Passa Eu Acho Graça’ (Ataulfo Alves e Carlos Imperial), fiquei impressionado com aquela voz e pensei: ela ainda vai para a Portela. E deu certo”, rememora o cantor. Ao todo, Clara gravou três canções de Monarco: “Jardim da Solidão”, “Vai, Amor” e “Rancho da Primavera”. “Ela foi a nossa maior cantora”, conclui o carioca.