Clareada
Jorge Gomes Borges
“ Oiá, Oiá, Oiá, Ê !
Oiá Matamba* de Kacurukaju Jinguê** !”
Quando Libra equilibrou o Universo
O Centauro, sua flecha, ao infinito atirou
E fez-se o Sol, a Lua Branca, nua
Do azul do firmamento, o mar
Fez-se o ar, a mata, a flor
Mil cantorias-de-rodas
Milhões de versos de amor
Na alcova Láctea de Aruanda
Quem manda nas estrelas é Orixá
Orumilá, Iansã e Ogum, abençoa
Um canto luminoso brota, ecoa
Até os mais longíquos rincões universais
E vem na voz do vento, no raio flamejante
A luz de uma “Santa”, fulgurante
O mais puro de todos os diamantes:
E Clara resplandece nos Gerais
Quem é maior do que o Céu
Ou mais gigante do que o Mar ?
Quem cantando acalma furacão
E revela a paz numa oração
Quem, Beira-Mar, Beira-Mar ?
Dilacera de saudades
Um amor, supostamente esquecido
A distância de um bem que nos é tão querido
E os sambas entoados nos versos de amor ?
Saudade assim, machuca como espinho
E vai deixando marcas no caminho
Com cheiro adocicado de uma flor
Clara ! Clarissa !
Calmaria
Clara Candeia Luminosa
Clara, teu canto é magia Gloriosa Iansã, Mãe-dos-Raios !
Clara canta e encanta
Canta, Clara
Santa Clara, canta !
Teu canto não silenciar-se-á jamais !
Eparrê Iansã mais cintilante
Da Constelação dos Orixás! * Matamba = condutora de almas
** Kacurukaju Jinguê = região de Daomé (onde o culto a Iansã nasceu )
" Jorge Gomes Borges, fonoaudiólogo, pernambucano de São Vicente Férrer, amante da Natureza; que costuma sorrir como uma criança e que chora como deveriam chorar os humanos; pai de Clarissa Borges - a mais bela flor de milhões de primavera - e sempre embalado e encantado com a magia, o canto, o acalanto, o ponto e a bênção de Clara Nunes! "